Em artigo publicado recentemente em meu blog, concluí afirmando que, por vezes, tinha a impressão que Bolsonaro não queria, de fato, governar. Ele seria uma espécie de Coringa, do Batman, um agente do caos, que somente se realizaria reinando sobre um monte de escombros. Como diz o arquivilão: “Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!”

O próprio Bolsonaro acabou confirmando essas palavras ao discursar no jantar oferecido a ele na casa do embaixador brasileiro em Washington. Textualmente: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos de desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa, para depois então começarmos a fazer”.

Pela amostra, tem-se ideia do que ele pretende destruir: pôr fim dos direitos dos trabalhadores, das minorias e das mulheres; liquidar com a educação; acabar com os direitos humanos; abalar as instituições e a própria democracia. No lugar, almeja uma sociedade armada; livre do “politicamente correto”; sem “ideologia de gênero”; formada somente por “cidadãos de bem”.

Mas, acima de tudo, sonha com uma utopia reacionária; uma sociedade autoritária-religiosa, a exemplo de uma república islâmica, porém cristã. Em seus devaneios, Bolsonaro tem certeza, como afirmou em seu discurso, ter linha direta com o próprio Deus. Disse que “Ele” estará sempre ao seu lado para ajudá-lo a levar adiante a “missão”, que lhe teria sido confiada pelo Todo Poderoso.

E a lambança continuou em sua visita: portou-se de forma subordinada; defendeu a construção do muro na fronteira dos EUA com o México; ofendeu milhares de brasileiros, ao dizer que “a maioria dos imigrantes não tem boas intenções; deixou aberta a possibilidade de participar de uma aventura militar na Venezuela, para agradar ao seu ídolo, Donald Trump.

Os bolsonaristas de sempre vão se queixar: você só fala mal, não viu nada de bom na visita que o presidente fez aos Estados Unidos? Talvez haja, mas a avalanche de impropriedades tem a propriedade de soterrar qualquer possível análise positiva.

 

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