Reprodução do artigo publicado no O POVO, editoria de Opinião, edição de 20/6/2019.

Dallagnol tem a resposta

O depoimento do ministro da Justiça, Sérgio Moro, à Comissão de Constituição e Justiça do Senado baseou-se nos seguintes pilares: na tentativa de desqualificar o trabalho do portal The Intercept Brasil, confundindo o método jornalístico com a ação de um suposto grupo criminoso, que teria invadido telefones de autoridades; em dizer que não podia ratificar a autenticidade dos diálogos; mas, contraditoriamente, mesmo admitindo as mensagens como verdadeiras, disse nada haver nelas que pudesse comprometer a sua imparcialidade como juiz.

Sim, o ministro também foi acometido de uma tremenda falta de memória, que o ajudou a escapar das perguntas mais incômodas. Uma delas, a que se referia à sua recomendação ao procurador Deltan Dallagnol para não “melindrar” alguém “cujo apoio é importante”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que poderia ser investigado.

Tanto o esquecimento do ministro, quanto a dúvida dele em relação à veracidade dos diálogos, poderia ser sanada – sugeriu um senador – caso ele autorizasse o Telegram a divulgar seus arquivos. Moro respondeu que fazia mais de dois anos que deixara de usar o dispositivo, não tendo como recuperar as conversas. Consultei o site oficial do Telegram e, de fato, as mensagens estão perdidas, caso ele tenha apagado a sua conta ou deixado de usar o aplicativo por mais de seis meses. Nos dois casos, a empresa destrói os arquivos.

No entanto, as mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol estão intactas na conta do procurador, sendo possível recuperar os diálogos. Portanto, caso Dallegnol disponha-se a abrir seus dados, haverá a possibilidade de confrontá-los com os divulgados pelo Intercept.

Assim, está nas mãos de Dallagnol a oportunidade de pôr as cartas na mesa, acabando com a pendenga. Se ele recusar-se, estará autorizando a todos a acreditarem que os diálogos divulgados pelo Intercept são verdadeiros, ainda que inofensivos, como quer Moro. O que se espera, no mínimo, é que Dallagnol não se sinta compelido agora a apagar a sua conta no Telegram.

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