Reprodução do artigo publicado no O POVO, editoria de Opinão, edição de 14/11/2019

Os “autoproclamados”

Mais um presidente “autoproclamado” soma-se a Juan Guaidó, que iniciou a moda na Venezuela. Agora foi vez da Bolívia, com Jeanine Añez autodeclarando-se chefe do Executivo, em um Senado esvaziado – e sem quórum –, depois de os partidários de Evo Morales, maioria na Casa, deixarem de comparecer à sessão por falta de segurança. Os aliados do presidente renunciante vêm sendo ameaçados por milícias – possivelmente dirigidas por Luis Camacho, um dos líderes “cívicos” – , com agressões físicas e tendo suas casas incendiadas.

Se no calor da hora pôde haver questionamento se ocorrera golpe na Bolívia, a dúvida se desfaz rapidamente, analisando-se a sucessão de acontecimentos precedentes e posteriores à renúncia de Morales. Foi golpe, sustentado por militares, polícia, milicianos e fanáticos religiosos.

Observe-se que, imediatamente após à autonomeação de Añez, as Forças Armadas, a polícia e Camacho a reconheceram prontamente como nova titular do cargo, como também o fizeram os Estados Unidos e o Brasil, por óbvio, pois o presidente Jair Bolsonaro tornou-se mero beleguim de Trump para a América Latina.

Essa política internacional subordinada aos interesses americanos tem um preço, tanto econômico quanto político. Na questão econômica o caso mais reluzente foi a da OCDE, sob a promessa de Trump de que ajudaria o Brasil a ingressar no bloco, Bolsonaro abriu mão das vantagens que o País tinha na Organização Mundial do Comércio (OMC). Trump, como se sabe, passou o Brasil para trás.

Politicamente, o Brasil perdeu a condição de agir como mediador na região, tarefa que sempre coube à sua diplomacia. Bolsonaro prefere aliar-se a qualquer aventureiro que carregue uma Bíblia embaixo do braço e acredite em conspirações internacionais, dirigidas por “comunistas” como George Soros, por exemplo.

Isso traz consequências nefastas – a invasão da embaixada da Venezuela é apenas amostra -, que serão sentida por décadas. Bolsonaro vem cumprindo a sua promessa de “desconstruir muita coisa” no Brasil. Anauê.