Reprodução do artigo publicado na edição de 12/12/2019 do O POVO.

O lado sombrio das redes sociais

Pesquisa do instituto DataSenado revela um dado que já se podia intuir, mas surpreendente pela sua dimensão: 79% dos entrevistados afirmaram utilizar “sempre” o Whatsapp como fonte de informação. Em seguida vêm a televisão (50%), Youtube (49%), Facebook (44%), site de notícias (38%), Instagram (30%), rádio (22%), jornal impresso (8%) e Twitter (7%).

Observa-se a superioridade esmagadora das redes sociais sobre a imprensa profissional. Pode-se dar desconto pela possível confusão entre “informação” e “notícia”. Mesmo assim é assombroso o percentual de pessoas valendo-se somente das redes como fonte de informações. O fato é que as mídias sociais vieram para ficar, incluindo a enxurrada de mentiras, fraudes e deformações (conhecidas como “fake news”) que por elas circulam.

O mal que isso pode causar à democracia ficou evidente na eleição nos Estados Unidos e no referendo do Brexit.

A jornalista Carole Cadwalladr, do jornal londrino The Observer, investigou durante um ano a atuação da empresa Cambridge Analytica, que utilizou dados do Facebook para induzir eleitores britânicos a votarem pela saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit.

As armas virtuais utilizadas foram a mentira, a ameaça e o medo em proporções gigantescas, porém servidas em doses individuais e personalizadas, dependendo do perfil do eleitor, mapeado pelo Facebook.

Cadwalladr chamou o artifício de “a maior fraude eleitoral na Grã-Bretanha em 100 anos”. Lembrou que no século XIX “carrinhos de mão” eram usados para carregar dinheiro para a compra de votos. Então foram criadas leis para impedir isso. Porém, “as leis não funcionam mais”, disse ela: “Pode-se gastar qualquer quantia em dinheiro nos anúncios no Facebook, Google ou YouTube, e ninguém saberá, porque são caixas pretas”.

Ela cita o Brasil como um dos países em que “ódio e medo estão sendo semeados on-line”, parte de uma “onda sombria” propagada por meio das plataformas de tecnologia.

Não se trata de fazer  um libelo contra as novas formas de comunicação, mas de alertar para o mal que podem causar quando usadas inescrupulosamente.

PS. Pesquisa do DataSenado. Palestra da jornalista Carole Cadwalladr.