Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) se enfrentam em debate nesta sexta-feira na Rede TV! (Foto: reprodução do vídeo)

No segundo encontro entre presidenciáveis na corrida eleitoral, realizado nesta sexta-feira na Rede TV!, oito dos 13 candidatos ao Planalto voltaram a medir forças.

Participaram do debate Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), Álvaro Dias (Pros), Cabo Daciolo (Patriota), Guilherme Boulos (Psol) e Henrique Meirelles (MDB).

O vitorioso, se houve algum, foi Marina, seguida por Ciro (falo mais sobre ele ao final do texto).

Desde o início do programa, a ex-senadora mostrou-se mais enérgica, tanto na apresentação pessoal, quando voltou a explorar o seu papel de mulher na campanha, quanto no curso da disputa, ao defender melhor suas ideias, explicando-as com firmeza.

Num debate marcado por dobradinhas (Daciolo x Boulos e Ciro x Alckmin foram as principais), Marina saiu-se bem ao tirar Bolsonaro para dançar e aplicar-lhe um pisão no pé.

Boulos já havia investido contra o militar no embate da Band, na semana passada, mas foi a candidata da Rede quem golpeou o líder das pesquisas com mais contundência. E precisamente num campo no qual o militar não pode retrucar: o da religiosidade.

Ao afirmar que Bolsonaro estimulava a violência, ensinando a “nossos jovens que tudo se resolve na base do grito”, Marina cercou o presidenciável num setor vulnerável.

Em seu tempo de comentário, a ex-ministra citou trecho da Bíblia a propósito de criticar gesto em forma de arma que o capitão da reserva havia ajudado uma criança a fazer com as mãos, ainda durante a fase da pré-campanha.

Em seguida, o confronto foi encerrado. Ponto pra ela. Foi talvez o único momento mais tenso de um debate no geral morno.

Bolsonaro teve desempenho abaixo do mostrado no debate anterior. Questionado por Reinaldo Azevedo sobre economia, por exemplo, pareceu ganhar tempo enquanto pensava numa resposta, pausando cada frase e pronunciando as palavras demoradamente.

A intenção indisfarçável era fazer os segundos se esgotarem sem que ele precisasse se enrolar, apelando inclusive a uma pesca levada na mão onde se lia “arma, pesquisa, Lula”.

Mais uma vez o postulante entrou em campo para jogar pelo empate. Nesta sexta, todavia, a estratégia não funcionou, e o militar ficou pra trás.

E Ciro? E Alckmin? Novamente, o ex-governador do Ceará chamou o tucano para a briga. A esta altura, a intenção do pedetista é clara: antagonizar com o paulista e ignorar Bolsonaro, relegando o militar a segundo plano.

Ciro aposta que o líder das pesquisas no cenário sem Lula vai cair sob efeito natural da gravidade. Pode ser que dê certo. Pode ser que não. Por enquanto, o cearense tem gasto mais energias contra Alckmin, dono de um latifúndio de tempo de campanha. O raciocínio soa razoável.

O tucano, por seu turno, vende-se como o produto que está acostumado a incorporar: o político experiente que não flerta com radicalismos e cujas propostas contêm a receita certa para que o Brasil saia da crise.

Numa de suas respostas no debate, Alckmin foi até habilidoso ao tentar se livrar da pecha de candidato de Temer. Rebateu a frase-clichê de Boulos (“50 tons de Temer”) devolvendo ao PT a responsabilidade pelo problema.

No que está coberto de razão. Afinal, sem o PT, Temer não teria chegado aonde chegou. Ocorre que, aliado ao “centrão”, o tucano continua a alimentar a mesma máquina que produziu o MDB, de quem é companheiro de primeira hora.

Para encerrar a análise sobre a participação do ex-governador: Alckmin tem uma tese. Qual? A de que a inércia e falta de opção farão com que o eleitorado migre para o seu nome no dia 7 de outubro. Parece inteligente jogar as fichas na força da estrutura e na lógica do “menos pior”.

Estas eleições, porém, não são como as anteriores.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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