Marina Silva, candidata da Rede Sustentabilidade à Presidência (Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil)

Duas candidaturas se fortalecem na nova rodada de pesquisa MDA/CNT para a corrida presidencial: a de Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba há quatro meses, e a de Jair Bolsonaro (PSL).

Liderando a sondagem, o petista tem 37,5% das intenções de voto contra 18,8% do capitão da reserva. Em relação ao levantamento anterior, feito em maio passado, Lula cresceu 5,1 pontos porcentuais e Bolsonaro, 0,5.

Marina Silva, da Rede, vem em terceiro lugar, com 5,6%, seguida por Geraldo Alckmin (PSDB), com 4,9%, e Ciro Gomes (PDT), com 4,1%.

Primeira aferição conduzida após o quadro de concorrentes ao Planalto se consolidar, a pesquisa não testou o nome do vice Fernando Haddad (PT) no lugar de Lula.

A 11 dias do início da propaganda eleitoral no rádio e TV, a sondagem cristaliza tendência de crescimento de Lula e Bolsonaro e a formação de um segundo pelotão.

Com Marina à frente, esse grupo tem outras três candidaturas competitivas: Alckmin, Ciro e Haddad, quando finalmente assumir a titularidade da chapa petista no lugar de Lula, cuja postulação deve ser indeferida.

Isso explica, em parte, a estratégia de Marina no último debate televisivo, na RedeTV!.

Lá, no mesmo estúdio onde o militar já havia declarado que não contrataria mulheres para ganhar salário igual ao de homens, a ex-ministra encarou Bolsonaro. Em seguida, deu dois passos em sua direção, sapecando-lhe uma bordoada já no finzinho da peleja.

A candidata da Rede tem um objetivo (chegar ao segundo turno, quando a eleição é outra) e uma dupla estratégia para alcançá-lo: confrontar Bolsonaro e herdar os votos lulistas.

Para encurralar o adversário direto, conta com a rejeição do voto feminino ao militar (52% do eleitorado).

A ex-senadora tem razões para estar animada, então. Primeiro porque, até agora, foi a candidata mais bem-sucedida no esforço de desbancar o nome do PSL, líder das pesquisas nos cenários sem Lula.

Segundo: depois de Haddad, é a que mais recebe votos do espólio de Lula em caso de inelegibilidade do candidato.

De acordo com a MDA/CNT, 11,9% dos sufrágios destinados ao petista iriam para ela. Ciro abocanharia 9,6%. Um terço do eleitorado de Lula anularia o voto e 16,6% não saberiam quem escolher.

Haddad fica com a maior fatia do bolo: 17,35%. Mas o ex-prefeito de São Paulo partiria de um patamar muito baixo para figurar no segundo turno. O vice depende da fortuna lulista e dos trocados que conseguir juntar no curso da campanha para carimbar o passaporte para a segunda etapa do pleito.

Há poucas certezas nesta disputa. Uma é que Lula não estará nela. Outra é que as grandes estruturas partidárias tentarão resolver tudo entre si.

Alckmin com o seu latifúndio de tempo garantido pelo “centrão”. E o PT e suas estratégias para não perder a hegemonia no chamado “campo progressista”.

Quando PSDB e PT afirmam que esta será novamente uma eleição polarizada, trata-se mais de uma crença fundada no receio partilhado pelas duas legendas de perderem espaço na disputa – o PT à esquerda para Ciro e Marina e o PSDB à direita para Bolsonaro. Nessa brincadeira, porém, tucanos e petistas podem encenar um abraço de afogados.

O mais provável, no entanto, é que pelo menos um deles chegue ao segundo turno. Mas quem? E contra quem?

Bolsonaro, Marina ou Ciro? A preço de hoje, Marina se cacifa para esse lugar. Por duas razões.

Saiu na frente como força anti-Bolsonaro. E está apostando no potencial do voto feminino. Entre todos os postulantes, é a única que conversa diretamente com esse segmento.

Ciro tem esse ranço do machismo que o acompanha aonde quer que vá.

Há dois fatores que podem, todavia, atrapalhar o sonhático projeto marinista: 1) uma onda Haddad/Manuela na esteira de uma robusta transferência de votos.

E 2): a vice de Haddad. Sim, a deputada estadual Manuela d’Ávila é mulher, jovem e, mais importante, comunica-se melhor que qualquer um dos postulantes com as novas camadas do eleitorado.

Digamos que pode ajudar a viralizar a chapa, que surfaria no sentimento de orfandade do eleitor, chegando às vésperas de 7 de outubro à frente de Ciro e Marina.

Essa é a única chance real do PT. A outra – a candidatura de Lula – é uma hipótese fantasiosa.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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