Jair Bolsonaro (PSL) durante sabatina no Jornal Nacional, conduzida por Renata Vasconcellos e William Bonner (Foto: reprodução)

Apesar da enquadrada recebida por Renata Vasconcellos durante sabatina do Jornal Nacional na noite desta terça-feira, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) colheu bons frutos de sua passagem pela TV.

A jornalista pode ter lacrado, mas quem comemorou foi o candidato.

Líder das pesquisas nos cenários sem Lula, com até 20% de intenções de voto (Datafolha), o deputado federal reforçou discurso a seu eleitorado em horário nobre.

Além disso, conseguiu disfarçar bem a inconsistência de propostas em áreas cruciais da administração e ainda causou uma saia-justa aos apresentadores da Rede Globo ao falar sobre a “pejotização” e o apoio da emissora carioca ao regime militar, num truque retórico que costuma repetir exatamente porque tende a exercer certa fascinação nas audiências.

À esquerda e à direita – nesta porque é prova da qualidade de “mito” do postulante, que não se acovarda mesmo diante da todo-poderosa Globo; naquela pelo gozo de assistir à execração do canal em seus próprios domínios e num tema sensível a esse campo ideológico.

De lambuja, Bolsonaro contou ainda com a sorte de ter um William Bonner menos disposto a interromper o entrevistado a cada resposta, coisa que o âncora não havia feito na entrevista que abriu a série nessa segunda-feira, com Ciro Gomes (PDT).

Contrariamente ao que as redes sociais logo converteram no ponto alto da sabatina, no entanto, o pior momento para Bolsonaro foi quando confrontado num terreno pouco explorado: direitos trabalhistas.

Ali, Bonner conseguiu encurralar o convidado, que se mostrou reticente e até nervoso diante de uma pergunta objetiva: o senhor vai eliminar direitos trabalhistas?

Mesmo sem afirmá-lo categoricamente, Bolsonaro deu a entender que sim, vai mexer na legislação, de modo a favorecer o empresariado.

É algo palpável e cujo alcance extrapola o eleitorado bolsonarista mais cativo.

Esse foi o instante em que o capitão da reserva esteve mais desconfortável ao longo de 28 minutos de entrevista – um a mais do que dispôs Ciro.

No restante da conversa, a dupla Bonner /Renata caiu no canto da sereia, instando Bolsonaro a entrar numa briga cujas regras ele conhece de cor e salteado e oferecendo um roteiro previsível de perguntas, entre as quais as de natureza moral.

A esta altura, passados dois debates televisivos (Bandeirantes e RedeTV!) e três sabatinas (duas na Globonews e uma na Globo), está claro que o deputado federal é capaz de driblar tópicos que fariam outros candidatos se embaraçarem.

Questões sobre aborto, sexualidade, drogas, segurança, diferença salarial entre homens e mulheres, quando conduzidas sob viés moral, facilitam a vida do deputado.

O inferno para Bolsonaro não é quando lhe perguntam se a polícia tem o direito de matar. Esse é o seu paraíso.

O pior dos mundos para o candidato é interpelá-lo sobre escassez hídrica, déficit de leitos hospitalares, pacto federativo, guerra fiscal e por aí vai.

Se a intenção é desconstruir Bolsonaro, a melhor estratégia não é estimulá-lo a vociferar, mas a apresentar com o máximo de clareza possível alguma ideia concreta sobre problemas reais do País.

Nisso quase todos os adversários do concorrente têm falhado até aqui.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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