Ex-candidato Ciro Gomes (PDT) está de férias desde o início do segundo turno das eleições (Foto: Agência Brasil)

Terceiro colocado na disputa, era natural que o ex-candidato Ciro Gomes (PDT) tivesse papel crucial no segundo turno da briga pelo Planalto.

Depositário de 13.344.366 de votos (12,47% do total dos válidos), o cearense terminava como uma força da campanha – o único que, nas simulações de embate direto das pesquisas, impunha-se ao capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) fora da margem de erro.

Era nome certo para vencê-lo, mas não avançou à fase seguinte – muito em função de uma estratégia burra do PT, mas isso é assunto para outro momento.

O apoio de Ciro, estava claro, teria potencial para desequilibrar a balança caso o ex-ministro se decidisse por uma ou outra candidatura. Mais que isso: se se empenhasse de fato em pedir votos a quem quer que fosse a sua alternativa.

De cara, anunciado o resultado das eleições, disse: “Ele, não”. Referia-se a Bolsonaro. Não mencionaria Fernando Haddad (PT), todavia.

Dali a dias o PDT aprovaria um apoio crítico ao petista, adversário de Bolsonaro na etapa decisiva do pleito. E mais não faria.

Ciro tira férias na Europa desde a primeira semana do segundo turno. Viajou ao lado da namorada. Interpelado por uma brasileira no metrô de Paris, alegou que estava cansado e o País, doente.

Não há dúvida de que o pedetista mobilizou inteligência e energia por um projeto cujo eixo era a tentativa de romper com a “polarização odienta” do Brasil, para usar uma expressão que se tornou recorrente em sua boca.

Sua campanha, e não me refiro apenas a propostas que se tornaram muito populares, como a do “SPCiro”, de fato abriu canais importantes com parte do eleitorado.

E é em respeito a essa parcela de brasileiros que o ex-candidato tinha por dever político estar aqui, agora. No País, onde um trabalho vital o espera.

Falar abertamente aos milhões de eleitores que lhe confiaram o voto e reiterar as críticas dirigidas ao que ele considera como “abismo autoritário” e “retrocesso democrático”.

Por tudo que representou em pouco mais de 30 dias de campanha, este é o papel de Ciro. E não a omissão ou um dar de ombros às vésperas de uma votação cuja gravidade ele mesmo reconhece, mas diante da qual escolheu ausentar-se.

Não questiono as razões de Ciro para ter dado as costas ao PT de Haddad e rumado para longe.

Noutras circunstâncias, não haveria resposta mais justa às interferências da cúpula do partido de Lula para asfixiar o pedetista.

Mas estas não são eleições como qualquer outra. Nem o momento é trivial. Tampouco as circunstâncias autorizam descanso de nenhuma espécie.

Se a intenção é cacifar-se para 2022 como nome da oposição, Ciro traçaria melhor estratégia se se integrasse à luta desde já contra os riscos à democracia que ele mesmo denunciou sistematicamente no curso de toda a primeira etapa desta batalha presidencial.

A três dias da votação, ainda há tempo para que o ex-governador do Ceará decida passar à história como um apoio decisivo no enfrentamento à “promessa certa de uma crise”, como ele escreveu ao tratar de Bolsonaro.

Ou como o candidato que poderia ter feito muito, mas optou por tirar férias na antessala do abismo.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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