A investigação do Ministério Público contra o economista Paulo Guedes é mais um episódio no qual instituições interferem de modo indevido nos rumos das eleições. A possível gestão fraudulenta é grave, claro. Deve ser apurada. Mas, a notícia surgir a 48 horas da definição do novo presidente da República configura uso de instituição pública contra uma candidatura. A mesmíssima coisa ocorreu quando, a uma semana do primeiro turno, foi revelado teor de depoimento de Antonio Palocci, que havia sido concedido seis meses antes.

Paulo Guedes

O economista Paulo Guedes comanda o núcleo econômico da campanha do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Ora, não era possível ter iniciado antes essa investigação contra Paulo Guedes? Ou esperar a segunda-feira? É uma investigação, não é uma sentença condenatória. Que interfere na eleição não resta dúvida. A criação de fato novo com uso das instituições públicas pode configurar crime eleitoral. A ter sido intencional, chega a ser molecagem.

Atingir a probidade de Paulo Guedes é uma mancha e tanto para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), que tanto se apega a aspectos morais. O economista se tornou o oráculo econômico do candidato. O “Posto Ipiranga”, como Bolsonaro diz, debochando com coisa séria. É grave e precisará ser respondido. Porém, a forma como isso vem à tona, a oportunidade, são descabidos.

Assim como não tinha cabimento, e eu disse na época, a divulgação do depoimento de Palocci àquela altura. Grave que fosse o depoimento de alguém que conhece tão de dentro as entranhas petistas.

Para além de Paulo Guedes

Independentemente do lado envolvido, as instituições têm limites do que é adequado em suas atuações, quando ameaçam interferir no resultado eleitoral.

A lei prevê mecanismos para resguardar a exploração política do aparato governamental para perseguição política. É por isso, por exemplo, que candidatos não podem ser presos nas semanas que antecedem a votação, salvo em flagrante ou em circunstâncias bem específicas. A prisão é um dano e tanto de imagem. Porém, um processo ou a abertura de investigação também são. Não são métodos corretos e não são aceitáveis. Permitir esse tipo de prática com um candidato abre a porta para se fazer contra qualquer um, como se vê agora.

O respeito ao Estado de Direito é condição da democracia.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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