uma mulher branca e de cabelo preto e uma criança branca de cabelo loiro conversam em libras

Senac está com inscrições abertas para Curso Técnico em Tradução e Interpretação da Libras em cinco cidades (Foto: Shutterstock)

Esses profissionais estão conquistando cada vez mais espaço no atendimento à comunidade surda

Imagine todo conhecimento produzido pela Humanidade: o avanço da ciência, os livros, as leis, muito desse patrimônio que encontramos com facilidade não chega para as pessoas com deficiência. A comunidade surda no mundo todo luta há séculos para ter acesso a informações, e são os tradutores intérpretes em língua de sinais que fazem um importante canal entre os ouvintes e eles.

No Brasil, o reconhecimento da Libras como um meio legal de comunicação e expressão aconteceu em 2002. Oito anos depois, a profissão de tradutor intérprete dessa língua passou a ser regulamentada por lei federal (nº 12.319) e, desde então, a atuação dessas pessoas têm sido chave no cumprimento da Lei de Inclusão para 2,2 milhões de pessoas com deficiência auditiva no País (Dado IBGE 2013).

Tradutores podem fazer mediação em inúmeros contextos. A norma oficial é que sua presença é obrigatória na radiodifusão de sons e imagens, em exames de admissão para o Ensino Superior, e até no Código de Trânsito Brasileiro está assegurada a possibilidade acompanhamento em aulas práticas e teóricas de direção.

Na verdade, cada situação da vida cotidiana pode ser facilitada pela tradução visual, e foi para poder se comunicar com um amigo de infância que a tradutora Beatryz Ferreira Maia, de 27 anos, entrou no mundo dos sinais. Ela começou com uma disciplina na faculdade, prosseguiu com os cursos básico e técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) do Crato e, após a conclusão, se efetivou rapidamente no mercado de trabalho como tradutora intérprete de Libras. “Fui vendo como o surdo ficava satisfeito em ver que havia alguém que tinha acesso à língua de sinais e tinha a capacidade de se comunicar com eles”, explica.

Hoje ela trabalha na Central de Interpretação de Libras de Juazeiro do Norte, órgão municipal que, segundo a tradutora, atende de cem a trezentas pessoas surdas por mês. Diariamente, Beatriz traduz emails, bilhetes, acompanha atendimentos em hospitais, delegacias, bancos e onde mais eles precisarem.

Com essa mediação, viu os horizontes se ampliarem para muitos surdos. Ao fazer a tradução simultânea em palestra de uma educadora feminista, Beatryz se deparou com a surpresa de uma moça surda ao saber as formas mais sutis de violência contra a mulher.

“É muito interessante e emocionante participar de situações como essas, porque muitas informações não chegam aos surdos. Quando participo de descobertas como essa eu me sinto altamente lisonjeada. Fazer parte do mundo deles e desse aprendizado é muito significante, tenho orgulho todos os dias da minha profissão”, afirma a tradutora.

Atendimento educacional especializado

A tradutora Ana Célia da Silva trabalha em uma escola pública do Crato. Há dois anos sua missão diária é mediar a o diálogo entre professores e as crianças surdas. O ensino com presença de intérprete em sala de aula construindo pontes é uma enorme conquista de acessibilidade alcançada comunidade surda brasileira.

As Línguas de Sinais e a educação para pessoas surdas já passou por períodos de repressão que deixou marcas em muitas gerações. Eles já foram proibidos de se comunicar por gestos e obrigados obedecer ao método de oralização para se adequar ao mesmo ensino direcionado aos falantes.

Muitos surdos têm a capacidade de emitir sons, palavras, ler lábios e escrever, mas não é esta a alternativa mais fluida e adequada para eles. A comunicação por sinais é a forma como naturalmente se expressam e, em 1960, o linguista norte-americano Willian Stokoe publicou um estudo em que reconhece o repertório de sinais como um sistema organizado com as propriedades gramaticais, morfológicas, sintáticas e semânticas presentes em todas as línguas.

O Decreto 5.626 obriga haver tradutor intérprete e o ensino da Libras nas escolas, o que aumenta a demanda de profissionais. “A comunidade surda ainda hoje luta porque existem muitas áreas escolares que não têm acessibilidade, inclusive no ensino superior”, explica a tradutora.

Ana Célia conta que começou a conhecer Libras despretensiosamente. No curso básico do Senac queria aprender somente o alfabeto, mas continuou a formação no curso técnico do Senac para contribuir com a acessibilidade para as pessoas surdas em todos os espaços da sociedade.

“Quando entrei no curso de Libras, me apaixonei e não consegui mais sair. É um mundo totalmente novo, a língua é muito linda. Nós tradutores intérpretes fazemos parte da comunidade surda e isso nos faz lutar junto com eles”, diz Ana Célia.

Tire suas dúvidas
Quanto ganha um tradutor da Libras?
Apesar de não haver piso salarial específico da categoria, Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais estabelece uma tabela de valores de remuneração de vão de R$ 100 por hora em consultas jurídicas até três mil por hora em debates políticos. Grandes empresas de recrutamento online como vagas.com informam média salarial de R$1.930 no Brasil.

Onde pode trabalhar?
Em escolas, pode fazer tradução simultânea de congressos, palestras, fóruns, seminários etc. Mediar atendimento jurídico, consultas médicas, escrever transcrições da Libras para o Português, fazer a sinalização em vídeo, TV, cinema ou internet, entre outras possibilidades

É preciso ter nível superior?
Não, para ser tradutor é preciso ter no mínimo o Ensino Médio e proficiência na língua, que só pode ser alcançada em cursos de graduação em bacharelado ou cursos técnicos.

Onde estudar?
O Senac Ceará oferece o Curso Técnico em Tradução e Interpretação da Libras e as inscrições online estão abertas em Aquiraz, Quixadá, Maranguape, Crato e Juazeiro do Norte.

Quanto tempo de curso?
No Senac o curso dura em média dois anos e meio.

O que vou aprender?
Alguns dos módulos do curso do Senac são: traduzir textos e diálogos do nível básico ao avançado. Libras em contexto comunitário, na educação básica, no ensino superior, em conferências, mídias ou apresentações artísticas