Evaldo Gouveia

Um dos principais nomes da Era do Rádio, Evaldo Gouveia foi referência para artistas como Fagner, Ednardo, Amelinha e Rodger Rogério (Foto: Divulgação)

Em outubro, traremos diversas matérias sobre grandes personalidades cearenses. A primeira delas traz a história do cantor e compositor Evaldo Gouveia

Carnavalesco, sambista, seresteiro e o que mais pudesse e quisesse ser. Era assim que o cearense Evaldo Gouveia costumava se definir, pois, acima de tudo, considerava-se compositor. De nome, talvez, alguns possam não estar muito familiarizados, mas certamente, muitos já ouviram, nem que seja por uma vez, clássicos como “Sentimental Demais”, “Somos Iguais” e “Serenata da Chuva”. Artista fundamental da música popular brasileira, um dos principais nomes da Era do Rádio, nas décadas de 1940 e 1950, Evaldo Gouveia foi, acima de tudo, uma referência para uma geração inteira, de Fagner, Ednardo, Amelinha a Rodger Rogério, passando ainda por jovens músicos do Ceará e de outros estados do País.

A obra de Evaldo Gouveia foi extensa e não se restringiu apenas ao circuito local. O artista possui nada menos do que 1.200 composições, além de 800 gravadas por parceiros, dentre eles Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Maysa e Alaíde Costa, só para citar alguns exemplos. Na década de 1970, foi autor, ao lado de outros compositores, de diversos sambas-enredo da Portela. A mais lembrada, “O Mundo Melhor de Pixinguinha”, ficou em segundo lugar no Carnaval do Rio de Janeiro.  

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Outra música emblemática na trajetória de Evaldo Gouveia é “O Conde”, de 1969, parceria com Jair Amorim, que ficou conhecida na marcante voz de Jair Rodrigues. A canção, que fez bastante sucesso na época, é uma emocionante e apaixonada homenagem a uma das mais icônicas e ilustres porta-bandeiras da Portela. Assim, em seus versos, Gouveia e Amorim falam sobre “a emoção de ver Vilma dançar, com seu estandarte na mão, e ouvir todo o meu povo aplaudir”.

Evaldo Gouveia nasceu em Orós, mas foi criado na vizinha Iguatu, para onde a família foi morar quando o compositor tinha apenas três meses. Mudou-se para a capital aos 11 anos, para completar os estudos. Despontou nacional – e internacionalmente – ainda muito jovem, por volta dos 20 anos, quando fundou o Trio Nagô, ao lado de Mário Alves e Epaminondas de Souza. De Fortaleza, os três foram para São Paulo, Rio de Janeiro, onde se apresentaram na Rádio Nacional, e até Paris e outras cidades francesas, como explica Ulyssis Gaspar, autor do livro “O que Me Contou Evaldo Gouveia”.

“Pode-se dizer que ele foi o precursor da música cearense. O próprio Fagner disse, em depoimento para o livro, que o Evaldo Gouveia foi e será sempre sua inspiração na música. Ele foi o primeiro artista do Estado a se projetar internacionalmente, justamente através do Trio Nagô e, posteriormente, com as inúmeras parcerias”, pontua. 

Evaldo Gouveia também foi mestre em compor marchas-rancho, estilo musical que se assemelha às tradicionais marchinhas, mas em um ritmo mais lento e cadenciado. “Bloco da Solidão”, de 1971, talvez seja a mais conhecida delas. E como explica Mateus Perdigão, fundador, vocalista e guitarrista do Bloco Luxo da Aldeia, que, desde 2007, valoriza a música local ao incluir apenas canções de compositores cearenses em seu repertório, o próprio Evaldo Gouveia considerava “Bloco da Solidão” como o hino do Carnaval brasileiro.

“É muito emocionante quando tocamos ‘Bloco da Solidão’, pois conseguimos perceber, muito nitidamente, nos rostos e nos gestos das pessoas, esse clima de nostalgia, algo que só quem ama música e, principalmente, o Carnaval sente. É um saudosismo de algo que nunca vivenciamos de fato, não éramos nascidos naquele período, assim como muitos dos foliões que vão aos shows do Luxo, mas é um sentimento que está muito presente nessa e muitas das canções de Evaldo Gouveia”, explica Mateus Perdigão.

Evaldo Gouveia faleceu em 2020, aos 91 anos, em decorrência de complicações da Covid-19. Seu legado, no entanto, permanece na memória afetiva de quem ama música e, principalmente, a música cearense, independentemente da geração. E como forma de valorizar o que a nossa arte tem de melhor, o Sesc Ceará, braço social do Sistema Fecomércio, vai realizar a Mostra Sesc de Culturas este ano. Com uma programação 100% digital, o encontro será também 100% made in Ceará, com uma programação para que todos, em qualquer lugar, conheçam os talentos do Estado.