Henriqueta Galeno de perfil

Além de conquistar o próprio espaço, Henriqueta Galeno incentivou outras mulheres através da educação e da literatura (Foto: arquivo Casa de Juvenal Galeno)

Escritora, docente, ensaísta e intelectual, Henriqueta Galeno quebrou barreiras ao frequentar espaços que, até então, eram destinados apenas aos homens

Lugar de mulher é onde ela quiser! Certamente, você já ouviu essa frase em algum momento nos últimos anos. Afinal de contas, mais do que nunca, elas estão lutando por seus direitos e, cada vez mais, ocupando os espaços dentro da sociedade, como deve ser. Entretanto, já no final do século XIX e começo do século XX, um nome no Ceará se destacou por seguir esse lema à risca.

Nascida em Fortaleza em 1887, a escritora, docente, ensaísta e intelectual Henriqueta Galeno quebrou barreiras ao frequentar espaços que, até então, eram destinados apenas aos homens, além de difundir, já naquele período, os ideais feministas. E como se não bastasse, também foi ativa nos movimentos culturais, políticos e agremiações literárias da capital. “Nessa época, as mulheres não eram encorajadas nas suas produções literárias, recorrendo muitas vezes aos pseudônimos masculinos. Por isso, ela dizia que queria romper os grilhões que encarceravam o pensamento feminino”, explica a escritora e presidente da Academia de Letras Juvenal Galeno, Maria Linda Lemos Bezerra.

Henriqueta é filha de Juvenal Galeno, um dos pioneiros da poesia popular no Brasil. Estudou no Colégio Imaculada Conceição e no Liceu do Ceará, em uma época em que poucas mulheres frequentavam as escolas, e se formou na Faculdade de Direito em 1918. Como destacou Lia Machado Fiuza FialhoI, no trabalho “Educadora Henriqueta Galeno: Trajetória de Uma Literata Feminista”, de 2018, a cearense “seguiu caminhos diferentes daqueles trilhados pela maioria das mulheres fortalezenses do seu tempo, ampliando espaços destinados às mulheres e impulsionando reflexões às suas conterrâneas cearenses acerca de seu lugar na sociedade”.

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A escritora não apenas seguiu por esses caminhos. Por meio da educação, da literatura e do conhecimento, ela incentivou outras mulheres a estarem presentes nos mais diferentes espaços públicos e a participarem das atividades sociais vigentes, além de seguirem na luta pelo direito de escolherem seus próprios destinos. E, em 1933, por exemplo, Getúlio Vargas esteve em Fortaleza. Na ocasião, recebeu a seguinte mensagem de Henriqueta Galeno:

“Dirigindo-vos a palavra, através desta Mensagem, faço-o, senão como vanguardeira da causa feminista no Ceará – pois quando do advento da nova pátria dirigi, de público, num serão do Salão Juvenal Galeno, ao exmo sr. Interventor Fernandes Távora, um apelo no sentido que os reconstrutores da nacionalidade reparassem a injustiça a que estava condenada a Mulher Brasileira, proibida de exercer os seus direitos políticos, – como representante da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino neste nosso querido e ensolarado rincão. Dr. Getúlio Vargas – recebei a expressão da maior confiança e do mais vivo reconhecimento da Mulher Cearense”. 

Profundamente influenciada pelo pai e movida pela paixão pelo conhecimento e por seus ideais, Henriqueta Galeno fundou, em 1919, o Salão Juvenal Galeno, posteriormente rebatizado de Casa de Juvenal Galeno, espaço de extrema importância para o desenvolvimento da cultura do Ceará. No local, funcionou ainda a Ala Feminina, que reunia escritoras, poetas e ensaístas do período, o Centro de Estudos Juvenal Galeno e a Editora Henriqueta Galeno, criado em sua homenagem.

Durante sua trajetória, Henriqueta também se dedicou a produzir ensaios, estudos e artigos que, por sua vez, eram publicados em jornais e revistas. Tanto que foi membro atuante da Associação Cearense de Imprensa e ocupou a cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras, tendo como patrono ninguém menos que seu próprio pai, Juvenal Galeno. “Um dos seus maiores legados foi essa bandeira de luta em reconhecimento ao valor da inteligência feminina. A editora Henriqueta Galeno, criada em sua homenagem, foi outro marco, que estimulava as mulheres, além de escritores, a produzirem suas obras, assim como ela sempre fez questão de fazer. Henriqueta também prestou um serviço de valor inestimável, que foi abrir as portas da Casa Juvenal Galeno para acolher os intelectuais cearenses, verdadeiro templo cultural”, finaliza Maria Linda.

Henriqueta Galeno é mais um desses casos de cearenses notáveis que mostraram para o Brasil – e o mundo – aquilo que temos de melhor. Sua trajetória é motivo de orgulho para o Sesc Ceará, braço social do Sistema Fecomércio. Orgulho este que se estende a todos os artistas e pensadores que brilham, fazem e acontecem. E é com essa ideia no coração que, em 2020, a Mostra Sesc de Culturas vai acontecer. Com uma programação 100% digital, o encontro será também 100% made in Ceará, para que todos, em qualquer lugar, conheçam os talentos da terrinha.

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