Vem dos montes abexins ou do Yemen…

Das lendas de Omar ou do pastor…

Floresceu em terras várias e distantes,

Mas aqui, somente aqui, conheceu o esplendor!

 

Bonito de ver!

Que lindo de ver, que orgulho de olhar!

O homem bendiz

A terra onde brota a riqueza sem par!

E canta feliz,

nos meses de abril,

Fazendo a “derriça”

Colhendo os rubis do Café do Brasil!

Humberto Teixeira

[Trecho de “Sinfonia do Café”]

 

Meio-dia dia de domingo. A exemplo do que geralmente acontece, eu deveria estar abrindo a primeira cerveja do dia. Não o fiz, porém, preferindo adiar para mais tarde o início da minha tarde etílica. A Stella Artois permanecerá de sobreaviso, na geladeira, por mais uns sessenta minutos.

Ao invés da cerveja, fui à cozinha pegar um café. Qual não foi a decepção quando, ao indagar pela garrafa, Naza informou, desapontada: “Oh!, Você ainda ia tomar café? Eu joguei fora, pois não imaginei que você ainda fosse tomar café esta manhã”. Mas carinhosamente apressou-se em me apaziguar: “Se você quiser, eu farei outro café”. Aceitei, explicando-lhe o motivo: como eu poderia escrever este texto sem ter ao meu lado uma xícara de café? Aliás, só não digo que em minha casa é mais fácil faltar água do que um cafezinho na garrafa porque, sem a primeira, o segundo não pode ser preparado. Se até algum tempo atrás somente eu e Naza apreciávamos esta bebida que é um dos néctares dos deuses, ultimamente Indira também resolveu se juntar a nós no prazeroso hábito de degustar um cafezinho em família.

Provavelmente poucas coisas serão tão características ou identificarão tanto o jeito  brasileiro de ser quanto o hábito de tomar um cafezinho. Arrisco afirmar que as paixões pelo cafezinho e pelo futebol são as características mais comuns aos diversos segmentos da cultura brasileira. Um e outro formam o elo que une e equipara todas as classes, não importando o nível de instrução ou poder aquisitivo. Seja no campo ou na cidade, nas grandes metrópoles ou nos mais remotos rincões, o cafezinho está lá, sedimentando velhas amizades e favorecendo o surgimento de novas.  

As conversas de cunho mais erudito também encontram no café um pretexto para acontecerem. Apenas para citar um exemplo, ente os muitos possíveis, quero lembrar aqui o Café Filosófico, programa criado pela TV Cultura em 2003 e levado ao ar aos domingos às 23 horas.  

Sou assinante da Revista Espresso, uma publicação especializada em tudo o que diz respeito ao café, que tem como lema: “A melhor companhia para o seu café”. Na última edição, no texto escrito à guisa de introdução para “Cinco receitas que esquentam”, Hanny Guimarães afirma: “O café reúne, conforta e aquece…” (Espresso. Nº 24, ano 6, p. 31).

De fato, nada de mais verdadeiro poderia ser dito sobre o café. Talvez exatamente por congregar, simultaneamente, essas três virtudes, o café tenha se imposto como um dos elementos estruturantes da cultura brasileira.  É bem conhecida a propensão do nosso povo a estar junto, a encontrar os amigos e familiares para um dedo de prosa, e o convite para tomar um cafezinho é um excelente pretexto para isso.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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