Nada pelas palavras do meu livro,

por seu sentido, tudo;

        Um livro que existe por si mesmo,

sem relação alguma com os demais

e que não tem sentido se lido apenas

com o intelecto;

        Mas vós, em vossos silêncios latentes,

haveis de tremer a cada página, assombrados.

Walt Whitman

[Folhas de Relva. Trad. Luciano Alves Meira. – São Paulo: Martin Clarret, 2005, p. 24]

 

Quem viu o filme Sociedade dos poetas mortos deve lembrar do grito de guerra do professor Keating, Ó capitão! Meu capitão!, primeiro verso do poema de mesmo nome, da autoria de Walt Whitman. O poeta Walt Whitman nasceu no dia 31 de maio de 1819, em Long Island, Nova York, EUA, e faleceu em 26 de março de 1892.

As poucas informações e fragmentos de poemas de Walt Whitman, encontradas em fontes diversas, foi o suficiente para fazer crescer em mim o interesse por conhecer melhor sua produção poética. Quando, finalmente, tive oportunidade de adquirir uma edição de Folhas de Relva, minha admiração por Whitman só aumentou.

O poema 51, do conjunto intitulado Canção de mim mesmo, é tudo o que eu gostaria de, um dia, ter escrito, se eu fosse poeta: Eu me contradigo?/ Muito bem, então me contradigo,/(Sou vasto, contenho multidões.) Esse mesmo sentimento dos muitos que habitam cada um de nós, pode ser identificado, também, na poesia de Fernando Pessoa. Também Edgar Morin tem teorizado sobre essa questão em alguns de seus livros.

O que me encanta nos autores que se aperceberam dessa dimensão multifacetada, característica do ser humano, é a capacidade que tiveram, os três, de transformar a consciência dessa condição escrita. Ao poetizar sobre o assunto – caso de Whitman e Pessoa -, ou ao teorizar, como é o caso de Morin, os três conseguiram atribuir sentido ao que poderia não passar de uma mixórdia de tantalizantes contradições. 

Walt Whitman apaixona não só pela qualidade e conteúdo da sua poesia, mas, igualmente, pelo estilo de vida que adotou, caracterizado especialmente pela simplicidade e frugalidade. Ele próprio era uma expressão dos seus escritos e, parece-me, pode-se afirmar que Folhas de Relva é uma espécie de auto-retrato, ou autobiografia poética de Whitman.

Para concluir, quero deixar aos leitores deste blog um fragmento de uma das  poesias de Whitman, pelo qual tenho especial apreço:

Canção da estrada aberta                                                                                                   

A partir de agora não peço mais pela boa sorte, pois eu mesmo sou a boa sorte,                                                                                                                                               A partir de agora abandono as lamúrias, não mais procrastino, de nada mais necessito,                                                                                                                               Estou farto de reclamações entre quatro paredes, bibliotecas, críticas conflituosas,                                                                                                                        Forte e satisfeito eu viajo pela estrada aberta (p. 160).

 

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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