Os tesouros do barroco mineiro “esquecidos”, desde a segunda metade do século XIX, começaram a ser redescobertos nas primeiras décadas do século XX. Entre as mais importantes contribuições para tal fato encontram-se os escritos de Mário de Andrade, como o artigo para a Revista do Brasil, de 1920, surgido de sua primeira viagem a Minas Gerais, em 1919. Os modernos buscavam e questionavam as raízes mais prpfundas da vida cultural brasileira. Com Mário de Andrade, surge uma crítica artística calcada em preceitos técnicos, fundados em conhecimentos históricos e estéticos.
Maria José Spiteri Tavolaro Passos
[Barroco memória viva: a extensão da universidade. Em: Tirapeli, Percival (organizador). Arte Sacra Colonial: barroco memória viva. – 2ª. ed. – São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: editora UNESP, 2005, p. 254.]
Entrando há alguns dias na livraria da Editora Vozes, me deparei com um livro que despertou logo minha atenção por suas dimensões e pelo colorido da capa. Parei diante da gôndola onde se encontrava exposto. Como não pudesse folheá-lo por estar protegido por um invólucro de plástico, a solução foi procurar a Teresinha – para quem não existem dificuldades nem obstáculos intransponíveis quando se trata de atender a demanda dos clientes -, e indagar se seria possível folhear o livro sem compromisso. No ato o plástico foi rasgado, e em poucos minutos eu me deleitava com a exuberância do barroco brasileiro exposto em belas imagens nas páginas do livro Arte Sacra Colonial: barroco memória viva, organizado por Percival Tirapeli.
No texto de Apresentação, Antonio Manoel dos Santos Silva, ex-Reitor da UNESP, afirma: “O Movimento Barroco Memória Viva do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) vem apostando, desde 1989, no barroco brasileiro, em especial o paulista, verdadeira viagem estética de gozo visual e arrebatamento sonoro que tanto animou a época colonial. Assim, o Barroco Memória Viva promoveu palestras, cursos e viagens culturais, em parte apresentados, finalmente, neste livro, reunindo alunos, professores, pesquisadores e funcionários do Instituto de Artes, além de um público cada vez maior de interessados. O resultado desse trabalho – reconhecido como Projeto Permanente da Reitoria da UNESP – traduz-se nesta obra que traz como temática central o templo religioso como expressão do pensamento da Igreja dos séculos XVII e XVIII. Os artigos aqui reunidos provêm especialmente das palestras apresentadas nos cursos promovidos sobre o barroco, refereindo-se sbretudo ao Estado de São Paulo, com incursões pelos Estados da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro” (p. 7).

Anjos tocheiros, séc. XVIII - Museu de Arte Sacra, BA, p. 160
No capítulo três, Frei Galvão: um arquiteto paulista, o autor, Benedito Lima de Toledo, escreve, ao se referir ao Mosteiro da Luz: “Frei Galvão revelou-se arquiteto de mérito. O convento que projetou é bem arejado e saudável, com corredores desafogados e abertura para pátios ajardinados. Suas acomodações, hoje, são bem ajustadas ao programa. O convento foi inaugurado em 1788 a igreja e o coro, em 1802. Até 1822, ano de sua morte, Frei Galvão trabalhou na obra sem ter podido vê-la completa, o que, ademais, é fato que a história da arquitetura registrou inúmeras vezes” (p. 40).
E completa, a propósito da resisitência do Mosteiro da Luz às investidas do crescimento da Metrópole, que nem sempre respeita as vetustas edificações: “O Mosteiro da Luz é o mais eloquente documento da arquitetura colonial que sobreviveu em São Paulo, e sobreviveu com toda a sua integridade. Quem conhece a permanente mutação dessa cidade constata que esse fato é realmente extraordinário, para não dizer um milagre” (p. 41).
A essa observação, se poderia retrucar: quem sabe se não seria este mais um milgare a ser creditado aos muitos atribuídos ao Frei Galvão, agora já elevado à glória dos altares?

Mosteiro da Luz - O Museu de Arte Sacra ocupa o andar térreo da ala esquerda da igreja, p. 35
O organizador do livro ====================================
Percival Tirapeli, paulista, nascido em Nhandeara, em 1952, é professor doutor, livre-docente e titular em Arte Brasileira na Universidade Estadual Paulista, UNESP, pesquisador e professor em cursos de graduação e de pós-graduação no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, UNESP, São Paulo, capital. Na área de pesquisa sobre a arte colonial paulista, realizou a dissertação de mestrado Arquitetura religiosa no contexto urbano do Vale do Paraíba, em 1984, iniciando assim a base para apresente obra. Doutorou-se em 1989, em Artes Plásticas, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Como artista plástico, é pioneiro no uso da xerografia (1975), participou de Bienais Nacional e Internacional de São Paulo e expõe em salões de arte desde 1972. Realizou exposições individuais em galerias de diversas cidades brasileiras, e em Roma. Possui obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na Pinacoteca da Prefeitura de Santo André e no Museu de Arte Contemporânea em Florianópolis, Santa Catarina. Como curador fez exposições do Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM), no Centro de Referência do Professor – Mário Covas e na exposição Do barro ao barro no Sesc Pompéia São Paulo, e no Sesc de Taubaté (2003).
otima repotagem
Cara Vanusia,
Grato pela postagem e pelo elogio.
Domvasco