No esquema hierárquico de Dionísio, o Areopagita, o termo anjos é reservado para o coro mais baixo, que trabalha diretamente com os seres humanos. A palavra anjo deriva-se do grego angelos, que significa “mensageiro”, e transportar mensagens é, por definição, a função principal dos anjos.

[Lewis, James R.; Oliver, Evelyn Dorothy. Enciclopédia dos Anjos. Tradução de Daniel Vieira. São Paulo: Makron Books, 199,verbete: Anjos, p. 31.]

No belo filme de Wim Wenders, Tão longe, tão perto, em mais de um episódio pessoas são miraculosamente socorridas e até salvas do perigo da morte 1201021126628_43053_Tao_Longe__Tao_Perto_griminente sem que percebam de onde veio a providencial ajuda. O fato é que, sem que o percebessem, alguns anjos sempre atentos velavam ocultamente por suas vidas,  prontos para socorrer nos momentos de maior necessidade.

Os anjos estão presentes nas três grandes tradições religiosas monoteístas: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. O Antigo Testamento é pródigo em episódios em que os anjos desempenham um papel fundamental. Um dos mais belos exemplos encontra-se no Livro de Tobias.

Tobit, velho e doente, precisa que seu filho Tobias vá a uma distante cidade receber uma soma que emprestara a um amigo. Mas, como Tobias desconhece o caminho, é necessário que encontre alguém que o conduza. Neste momento, lhe aparece um jovem que se identifica pelo nome de Azarias, dispondo-se a conduzir Tobias durante jornada. A proposta é aceita. No final da viagem, Azarias se dá a conhecer, revelando o seu verdadeiro nome e a sua verdadeira natureza. De fato, o nome com o qual se apresentara era apenas fictício; lhes revela, então, a sua verdadeira identidade: ele se chama Rafael, e é um dos anjos que assistem a Deus em Seu trono, tendo sido enviado à Terra com a missão de conduzir Tobias ao longo da viagem.

Tenho pelo Anjo Rafael uma predileção toda especial. Quando publiquei o livro “Viagem Mística no Tibete”, fiz-lhe uma dedicatória. Um fato singular me aconteceu, há alguns anos, em que senti, de forma que não me deixou qualquer dúvida, sua presença. Se eu acredito na existência dos anjos? Não, eu não acredito; eu não preciso acreditar. A crença só é necessária a quem nunca experimentou existencialmente a realidade daquilo que é objeto da crença. 

No final do Livro de Tobias, quando o Anjo Rafael se dá a conhecer à família de Tobit, todos surpresos e extasiados com o que ouviam, os instrui a publicar as maravilhas que acabavam de experimentar. É o que faço agora, ao postar este texto.     

“Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar. Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor. Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher do teu filho. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor”.

Ao ouvir essas palavras, eles ficaram fora de si e, tremendo, prostraram-se com o rosto por terra. Mas o anjo disse-lhes: “A paz esteja convosco: não temais. Quando eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor. Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível e minha bebida não pode ser vista pelos homens. É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós, porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas”.

Acabando de dizer essas palavras, desapareceu diante deles e eles não viram mais nada. Durante três horas permaneceram prostrados por terra, bendizendo a Deus. Depois levantaram-se e publicaram todas essas maravilhas. (Tb, 12, 11-22).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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