O santo é um homem- uma mulher – em cujo corpo reverberaram tão violentamente os impulsos do amor que sua alma desliga-se do envoltório corpóreo para evadir-se pelas esferas tão cobiçadas (ver drogas e consortes) da essência superior do ser. O santo é uma forma avançada da humanidade. Deu alguns passos a mais nas metamorfoses do “Homo Sapiens”. O santo nos interessa porque tem a sabedoria de ser louco, vale dizer, de ultrapassar as fronteiras do natural para inventariar outras formas de comunicação com o invisível. Provavelmente será alcançado pela ciência nas próximas décadas, pois experimenta sozinho, sem ter pretendido, o campo das descobertas magnéticas que o futuro está para nos revelar. Ele vibra com conhecimentos inexprimíveis, pois não é nem o cientista nem o técnico daquilo que vivencia.

Elisabeth Reynaud

[Reynaud, Elisabeth. Teresa de Ávila ou o divino prazer. Tradução de Clóvis Marques. – Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 13.]

099821A Igreja Católica comemora neste domingo a Festa de Todos os Santos. Mario Sgarbossa, no livro Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente (tradução Armando Braio Ara. São Paulo: Paulinas, 2003), oferece a seguinte informação a propósito de sua origem:

“A origem dessa festa remonta ao século IV. Em Antioquia, celebrava-se no primeiro domingo depois de Pentecostes. No século VII, a data foi fixada em 13 de maio, Dia da Consagração do Panteão a santa Maria dos Mártires. Naquele dia, fazia-se descer da clarabóia da grande cúpula uma chuva de rosas vermelhas. Gregório IV removeu a celebração para o dia 1º de novembro, depois da colheita de outono, quando era mais fácil encontrar alimento para os numerosos peregrinos que, depois dos trabalhos do verão, dirigiam-se em peregrinação à Cidade dos Mártires” (p. 617).

A vida dos santos sempre me causou grande fascínio. Creio que esse interesse tenha brotado em mim quando li pela primeira vez a história de um santo, por volta dos dez anos de idade. Naquela ocasião, meu tio Afonso me emprestou um livro intitulado As mais belas histórias. O livro se tornou tão importante para mim que nunca mais o devolvi. Foi também nessa ocasião que, devido ao livro, me tornei pela primeira vez devoto de um santo, As_mais_belas_historias._segundo_livrodevoção essa que veio se somar à que eu já tinha por Nossa Senhora. O santo foi São Bosco, e o motivo foi a leitura da história que tinha por título “Dom Bosco e seus bichinhos”.

Quando me tornei adulto e comecei a formar a minha biblioteca, adquiri o hábito de comprar livros sobre a vida dos santos: São Francisco de Assis, Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, São José, São Paulo, Santa Edwiges e muitos outros que não vou mencionar porque a lista se tornaria muito extensa. Depois que adquiri o livro de Mario Sgarbossa, acima mencionado, desenvolvi o hábito de ler diariamente a parte relativa aos santos do dia.

A leitura da vida dos santos causa fascínio por diversos motivos. Antes de qualquer coisa, em que pese alguns exageros e fantasias próprios da hagiografia, tais existências estão eivadas de fatos e acontecimentos extraordinários. Somente esse aspecto já constitui grande apelo à curiosidade humana. Mas não é só isso. Os santos foram, de fato, figuras extraordinárias, heróis que, na maioria das vezes, triunfaram sobre si mesmos e sobre as condições limitadoras do seu tempo e do meio em que viveram. Essa dimensão heróica de suas vidas constitui um segundo aspecto de não menos importância.

Dom Bosco e os jovens a cuja formação dedicou muitos esforços

Dom Bosco e os jovens a cuja formação dedicou muitos esforços

Por outro lado, se a vida dos santos serve de emulação para que cada cristão se esforce por atingir aquele estado a que eles lograram chegar, ao mesmo tempo não deixa de causar certa angústia. Defrontar-se com esses gigantes espirituais nos faz sentir pequenos demais, distantes demais dos patamares por eles galgados. E isso angustia. Resta, porém, um consolo: tomá-los por protetores e intercessores, na esperança de que pelo menos um mínimo das muitas graças e bênçãos a eles concedidas nos sejam outorgadas, não por merecimento nosso, mas pelos méritos deles diante de Deus, que não são poucos. Foi essa a alternativa por mim assumida, e não hesito em afirmar que os resultados têm sido surpreendentes. Quem tiver dúvidas que o exprimente e tire suas próprias conclusões.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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