Neste país não nos furtamos a desprezar o conhecimento sobre os povos negros que tanto contribuíram para colonizar o país, mantendo a mais ampla ignorância sobre tudo o que diz respeito a eles; tem-se até dado crédito a ideias erradas sobre a origem de nossos negros e suas manifestações de cultura. E isso tudo pode servir para nossa condenação por, mais tarde, não conseguirmos ter uma idéia justa da sua influência em nosso povo.
Nina Rodrigues
[Rodrigues, Nina. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Madras, 2008, p. 31].
Fiquei imensamente feliz quando, ao entrar numa loja de produtos esotéricos, me deparei com o livro Os Africanos no Brasil, do maranhense Nina Rodrigues. Desde que comecei a ler sobre o Candomblé e a Umbanda, sempre encontrei referências aos estudos de Nina Rodrigues. Roger Bastide inicia o seu clássico O candomblé da Bahia comentando alguns pontos de vista do médico brasileiro que se fez, também, antropólogo. A exemplo de Bastide, também Pierre Verger o cita em algumas de suas obras. Para os estudiosos das tradições trazidas pelos africanos que aportaram no Brasil, portanto, e que, como eu, não tinham ainda tido a oportunidade de ter acesso direto aos estudos publicados por Nina Rodrigues, é motivo de muito regozijo o lançamento de Os Africanos no Brasil, pela Madras Editora Ltda., originalmente publicado em 1932.
No Prólogo escrito para a edição aqui comentada, o Sacerdote de Umbanda Alexandre Cumino diz, ao se referir a Nina Rodrigues: “Frequenta Candomblés, deita-se com yaôs e come a comida dos Orixás, era a afirmação de alguns colegas e críticos sobre Nina Rodrigues e seu interesse pelo negro e sua dedicação à pesquisa de campo. Nina Rodrigues não fala como alguém de dentro, mas sim como alguém que esteve por dentro e expressa o que até então ninguém havia expressado antes. (…) Incentivado pelos estudos de antropologia criminal, convivendo com republicanos e abolicionistas, tocado pela situação dos menos favorecidos, chamado de médico dos pobres, Nina Rodrigues se encantou com o universo dos africanos no Brasil” (p. 7).
Raimundo Nina Rodrigues nasceu em Vargem Grande, no Maranhão, em 4 de dezembro de 1862. Depois de concluído o curso primário, transferiu-se para

Raimundo Nina Rodrigues
São Luiz do Maranhão, onde completou o curso de humanidades, seguindo, depois para a Bahia, onde cursou medicina. Logo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se doutorou em 1888. Nina Rodrigues foi pioneiro na assistência médico-legal a doentes mentais. Foi, a par de suas atividades médicas, um grande apaixonado pelas tradições africanas introduzidas no Brasil pelos negros que para cá foram trazidos como escravos.
Antes de dele, pode-se dizer que nenhum estudioso brasileiro havia ainda se dedicado seriamente ao estudo de tais tradições. Em 1888, no livro Estudos sobre a poesia popular do Brasil o crítico literário, poeta e filósofo Sílvio Romero (1851-1914) escrevia, em tom de lamento: “É uma vergonha para a ciência do Brasil que nada tenhamos consagrado de nossos trabalhos ao estudo das línguas e das religiões africanas. Quando vemos homens, como Bleek, refugiarem-se dezenas e dezenas de anos nos centros da África somente para estudar uma língua e coligir uns mitos, nós que temos o material em casa, que temos a áfrica em nossas cozinhas, como a América me nossas selvas e a Europa em nossos salões, nada havemos produzido neste sentido! É uma desgraça”. O trecho aqui reproduzido está citado na p. 17 da edição aqui comentada de Os Africanos no Brasil.
Não sabemos se Nina Rodrigues teve conhecimento da reclamação de Silvio Romero. O fato é que tomou para si a missão de iniciar o estudo das tradições trazidas pelos africanos que aqui chegaram como escravos. Sobre o assunto ele escreveu, além da presente obra, As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil e O animismo fetichista dos negros da Bahia. Para interessados que, como eu, só conheciam o pensamento de Nina Rodrigues através de citações de outros autores, é, portanto, motivo para celebração a publicação de Os Africanos no Brasil pela Madras Editora.
Prezado Vasconcelos,
Continua sendo diletante ler seu blog. Além do aprendizado intelectual, deparamo-nos como histórias fantásticas,com lembranças indeléveis. Continue em 2010 a nos encantar com suas primorosas penas. Um abraço do amigo e admirador.
Caro amigo Carlinhos,
Mais uma vez mereço de você um comentário elogioso, o que, para mim, por si só já constitui suficiente incentivo para prosseguir com este blog. Estive alguns dias sem postar nenhum texto porque estava arquitetando algumas mudanças no blog para 2010. Mais uma vez, grato por seu incentivo e os meus melhores votos de um 2010 repleto de acontecimentos agradavelmente surpreendentes para você e sua família.
Abraço,
Vasco
Informação muito útil.