Mas a mulher que sofria de hemorragia havia doze anos tem uma tal confiança no poder de cura dele que, ao se aproximar silenciosamente por detrás dele, tocou-lhe com discrição a franja da veste (cf. Lc 8,43-44). E Jesus o percebe. Ele conhece a psique humana, seus dramas, suas angústias, suas prisões e procura sarar, encorajar, curar, libertar.

Angelo Amato

[Amato, Angelo. Verbete: Jesus Cristo. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010, p. 843.]

De que ele é um grande mestre não me restam dúvidas.  Aliás, mais que um grande mestre, no meu caso, posso afirmar que tenho a mais plena convicção de que ele é, de fato, O Mestre. Como, porém, estabelecer uma relação de proximidade com uma figura tão extraordinária, tão magnificamente divina e sobre-humana?  Essa é a questão que venho tentando solucionar há muitos anos.

Talvez o problema resida não exatamente em Cristo, mas naquilo que as igrejas instituídas que dele se apoderaram o transformaram. O Cristo dos púlpitos se tornou ao longo dos séculos, em muitos casos, uma figura distante e inacessível, difícil de ser aceita como o amigo acolhedor e misericordioso.

Fico ainda estupefato com as ameaçadoras imprecações que não raro emanam dos púlpitos de muitos sacerdotes e pastores que se arvoram o direito de falar em Seu nome. Nem parece que falam daquele homem que caminhou lado a lado com a prostituta, com o cobrador de impostos e muitos outros considerados na época a ralé da sociedade.

Gostei imensamente do trecho de um texto sobre Jesus Cristo escrito por Angelo Amato para o Dicionário de Homilética. Nele o autor se refere a Cristo como sendo alguém que conhecia a psique humana. É nesse Cristo que gosto de pensar e é dele que tento me aproximar, mesmo com todas as minhas dúvidas, fraquezas e, sobretudo, minha pouquíssima e frágil fé.

Gosto de pensar que, se ele é de fato um grande conhecedor da psique humana, saberá muito bem prover os meios necessários a alguém cuja fé não chega a ter nem mesmo o tamanho dum grão de mostarda, para que se aproxime dele suavemente e de forma gradual, preservando-o, assim, do risco de se sentir diminuto demais para lograr sucesso no projeto de tê-lo  como Mestre, o que poderia levá-lo a desistir logo ao ensaiar os primeiros passos.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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