Num livro em que trata da interação entre as religiões afro-brasileiras e a católica e como isso se reflete nos cultos prestados a Maria e Iemanjá, Elias Leite escreve: “O confronto e o resultado dessa simbiótica interação da fé, por uma social convivência do meio, fizeram nascer um sincretismo religioso nacional, cujos expoentes se configuram em Iemanjá, o Orixá mitológico do povo Iorubano – a Mãe das águas, e a figura humana suave e acolhedora de Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, o Cristo, Filho de Deus, e Mãe da Igreja” (Leite, Elias. Maria e Iemanjá no sincretismo afro-brasileiro (simbiose e arquétipo). São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 90).

Esta semana andei relendo este livro, bem como sobre a história do dogma da Assunção de Maria, proclamado em 1º de novembro de 1950 pelo papa Pio XII com as seguintes palavras: “Definimos ser dogma revelado por Deus que a imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi assunta à glória celeste em alma e corpo” (Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 461).

Nesta sexta-feira temos um feriado em Fortaleza por ser este o dia dedicado à sua padroeira, Nossa Senhora da Assunção. Os católicos irão à igreja onde assistirão à missa e, a seguir, seguirão em procissão pelas ruas da cidade conduzindo o andor com a imagem da padroeira. Quem descer à orla marítima de Fortaleza, porém, encontrará ali outro grupo de fiéis celebrando também a sua padroeira. É que nesse dia os umbandistas festejam Iemanjá.

São duas festas distintas com um mesmo objetivo: celebrar a Grande Mãe, essa figura arquetípica presente na maioria das religiões.

O maior elogio que recebi em minha, ouvi-o do poeta e professor Horácio Dídimo. Depois de uma conversa em que falei sobre o Budismo e o Hinduísmo, ergueu-se da cadeira em que se encontrava e, dirigindo-se a mim, falou: “Vasco, você é um pontífice no sentido etimológico da palavra, pontifex: construtor de pontes. Você é um construtor de pontes entre as religiões”. Creio que jamais escutarei palavras que me proporcionem tanta alegria quanto essas, não importa quantos anos eu viva. Não sei se tenho uma missão na vida, mas posso assegurar que, enquanto me mantiver em atividade, farei sempre o que estiver ao meu alcance para incentivar o respeito e a paz entre as religiões.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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