Então, pensamos: faremos um evento no Rio de Janeiro, em Brasília ou em São Paulo? O tempo foi passando e acabamos decidindo por fazer em Fortaleza, no Ceará, onde foi fundada a mais antiga Academia de Letras do País, a Academia Cearense (1894), sediada no Palácio da Luz, assim denominado em homenagem à Abolição dos Escravos ocorrida antes que a Princesa Regente assinasse a Lei Áurea. Busquei, então, o Dr. José Augusto Bezerra, maior bibliófilo do País, presidente daquela mais que centenária Casa e ele aceitou imediatamente a proposta.

José Luís Araújo Lira, cavaleiro da OESSJ – Presidente da Academia Sobralense de Letras Jurídicas, fundada em 26 de junho de 2015.

[Lira, José Luís. Princesa Isabel, a Redentora. Edição Comemorativa dos 170 anos da Princesa. / José Luís Lira et José Augusto Bezerra. – Fortaleza: ACL, 2016, p. 14.]

Na última sexta-feira, 29 de julho de 2016, a Academia Brasileira de Letras foi palco de um grandioso evento, por ocasião da celebração dos 170 anos de nascimento da Princesa Isabel, realizado em parceria com a Academia Sobralense de Letras Jurídicas. A ideia da homenagem partiu do Prof. José Luís Lira, Presidente desta última, que, ao contatar o Dr. José Augusto Bezerra, Presidente da primeira, encontrou pronta e total acolhida. O projeto acabou resultando numa bela e sofisticada solenidade, culminando com a montagem de uma exposição e o lançamento do livro “Princesa Isabel, A Redentora”, também este fruto da parceria entre os dois idealizadores do evento.

A propósito do livro, afirma José Augusto Bezerra: “Dada a grandiosidade da efeméride, juntos, Lira e eu, tivemos a ideia de editar este trabalho. Bibliófilos que somos, decidimos fazer 170 exemplares numerados, pois, se viva estivesse, a Princesa Redentora faria 170 anos. A boa aceitação do evento, incluindo a iniciativa de S. A. I. R. Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil e de seu irmão, segundo na sucessão do trono, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que conheci quando eu tomava posse na egrégia Academia Portuguesa da História, aceitando enviar representação oficial à sessão solene, associado ao desconhecimento de outra homenagem à regente do Trono Brasileiro no II Império de nosso País, faz com que possamos afirmar que será a homenagem nacional a Dona Isabel de Orleans e Bragança” (p. 10).

Além de uma série de documentos pertencentes ao rico acervo do Dr. José Augusto Bezerra, que além de presidir a Academia Brasileira de Letras é também Presidente e fundador da Associação Brasileira de Bibliófilos, o livro traz dois poemas que merecem  destaque. Um deles, ainda inédito em livro, intitulado “D. Isabel, a Redentora”, enaltece a figura da homenageada:

“A cara pátria, em júbilos acesa,/ Saúda o vosso natalício agora;/ Os raros dotes da gentil Princesa,/ Da Filha, Mãe e Esposa comemora. // Do coração do povo agradecido/ Um coro de louvor alto ressoa/ A vós, que a fazer bem haveis vivido,/ Que magnânima sois, clemente e boa. // N´este vasto concerto se mistura/ Com os festivos cânticos a prece/ A Deus, que vê toda a voss`alma pura/ Cuja virtude, dia a dia, cresce. // E ao trono excelso o povo que vos ama/ Eleva um imortal pregão, Senhora;/ Anjo da liberdade vos aclama: / Salve, Dona Isabel, a Redentora!” F. D. (p. 23).

Quanto ao outro, trata-se de um soneto de autoria do Imperador Dom Pedro II, escrito por ocasião da despedida de Dona Teresa Cristina, Imperatriz do Brasil, no exílio, falecida 41 dias após a expulsão da Família Imperial do Brasil, na cidade do Porto, no dia 28 de dezembro de 1889. Assim se expressa o autor em versos pungentes dirigidos  “À Imperatriz”:

“Corda que estala em harpa mal tangida,/ Assim te vais, ò doce companheira/ Da fortuna e do exílio, verdadeira/ Metade de minha alma entristecida! // De augusto e velho tronco hastea partida/ E transplantada à terra Brasileira,/ Lá te fizeste a sombra hospitaleira,/ Em que todo infortúnio achou guarida. // Feriu-te a ingratidão no seu delírio;/ Caíste, e eu fico a sós, neste abandono,/ Do teu sepulcro vacilante círio! // Como foste feliz! dorme o teu sono…/ Mãe do povo, acabou-se-te o martírio;/ Filha de reis, ganhaste um grande trono!” (p. 57).

Fiquei imensamente feliz em ter participado de evento preparado com tanto esmero e carinho para aquela que recebeu do povo brasileiro o merecido título de “A Redentora”. Parabenizo, pois, ao Prof. José Luís Lira e ao Dr. José Augusto Bezerra pela inspirada iniciativa. Resta-me dizer que, ao saber que os exemplares da publicação eram numeradas de 1 a 170, procurei, tão logo cheguei à Academia Cearense de Letras, me certificar de que o exemplar de número 55 ainda não havia sido vendido, posto que, dia 3 de agosto vindouro, completarei  55 anos. A aquisição da publicação, tão significativa para mim, ficará como memento do meu 55º aniversário.

Por fim, cito, à guisa de conclusão, as palavras do Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, que assim se manifestou sobre a homenagem: “A Princesa Isabel, a Redentora, é uma figura de inegável realce na nossa História. De espírito profundamente católico e com grande noção de seus deveres perante a Nação, o Brasil lhe deve uma de suas páginas mais marcantes: a abolição da escravatura. É justo, pois, que neste ano em que se comemoram 170 anos de seu nascimento uma homenagem especial seja feita á sua memória. E é significativo que tal homenagem se dê precisamente no estado do Ceará – mais precisamente nesta cidade de Fortaleza , banhada pelos verdes mares – Estado que tomou a frente na saga da abolição da escravatura”.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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