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13. De Maria nunquam satis

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Vasco Arruda

Na gruta de Nazaré encontram-se Deus e o homem, anulando qualquer distância. Por agora, de um lado, está o anjo, o sinal do divino, e do outro, Maria, uma menina talvez de uns doze anos, segundo a práxis nupcial antiga do Oriente. Aliás, o ano do seu nascimento é desconhecido, tal como tantas outras datas da sua vida. Podemos avançar uma hipótese, tendo, no entanto, em conta que o início da era cristã, com base no qual calculamos nossos anos, não é correto por causa de um erro do primeiro que fez essas contas, o monge do século VI, Dionísio, o Pequeno. De fato, se Herodes morreu no ano 4 a.C., é preciso retrodatar o nascimento de Cristo pelo menos no ano 6 a.C. Considerada depois a jovem idade em que a mulher contraía matrimônio no antigo Próximo Oriente, podemos pensar que Maria tenha vindo a este mundo por volta de 18-20 a.C., quase certamente em Nazaré, apesar de os evangelhos apócrifos a dizerem natural de Jerusalém. Mas o primeiro acontecimento registrado pelos evangelhos canônicos é precisamente o encontro com o anjo. Um encontro narrado segundo os moldes dos famosos relatos de anunciações de nascimentos gloriosos, já conhecidos no Antigo Testamento e presentes em Lucas, como a anunciação a Zacarias (1,5-38), e em Mateus com a referida anunciação a José. Eis, então, a aparição angélica (Gabriel, como para Zacarias); eis a razão do temor da pessoa eleita (“ela ficou perturbada… Não temas…”); eis o grande anúncio central (“conceberás um filho e chamá-lo-ás Jesus…”) com o nome e o destino do nascituro; eis a objeção (“como será possível? Não conheço homem”) e eis, enfim, o sinal (o concebimento de João Batista por parte de Isabel).
Gianfranco Ravasi
[Ravasi, Gianfranco. Os rostos de Maria na Bíblia: trinta e um “ícones” bíblicos. Tradução de Maria Pereira – TRADUVÁRIUS, Lisboa: Paulus Editora, 2008, p. 154.]

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Vasco Arruda

O anjo espera a tua resposta, ó Maria! Esperamos também nós, ó Senhora, este teu dom que é dom de Deus. Está nas tuas mãos o preço do nosso resgate. Responde depressa, ó Virgem! Pronuncia, ó Senhora, a palavra que a terra e o céu esperam. Dá a tua palavra e acolhe a Palavra; diz a tua palavra humana e concebe a Palavra de Deus; pronuncia a tua palavra que passa e estreita no teu seio a Palavra que é eterna… Abre, portanto, ó Virgem bendita, o teu coração à fé, os teus lábios à palavra, o teu seio ao Criador. Eis, aquele que é o desejo de todas as gentes, está fora e bate à tua porta… Levanta-te, corre, abre! Levanta-te com a tua fé, corre com o teu afeto, abre com o teu consentimento.
São Bernardo
[Citado em: Ravasi, Gianfranco. Os rostos de Maria na Bíblia: trinta e um “ícones” bíblicos. Tradução de Maria Pereira – TRADUVÁRIUS, Lisboa: Paulus Editora, 2008, p. 156.]

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Vasco Arruda

Hoje apareceu o esplendor da púrpura divina, e a miserável natureza humana foi revestida da dignidade real. Hoje, segundo a profecia, floresceu o cetro de Davi, o ramo sempre verde de Aarão, que por nós produziu Cristo, ramo da força. Hoje de Judá e de Davi saiu uma virgem jovenzinha que leva o signo do reino e do sacerdócio daquele que, segundo a ordem de Melquisedeque, recebeu o sacerdócio de Aarão. Hoje a graça, purificando o princípio místico do divino sacerdócio, tece-lhe, à maneira de símbolo, o vestido da semente levítica, e Deus tinge a púrpura real do sangue de Davi. Para dizer tudo em uma palavra: hoje começa a reforma da nossa natureza, e o velho mundo, sujeito a uma transformação toda divina, recebe as primícias da segunda criação.
Santo André de Creta.
[Santo André de Creta, patriarca († 740), Vergine Madre. Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 691.]

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Vasco Arruda

Desejo dizer a você que hoje passa por um momento difícil, por um voo turbulento em sua vida: NÃO DESANIME! Tudo é possível para o nosso Deus! Não olhe os obstáculos que estão à sua frente. Olhe para Jesus, olhe para Maria e abandone-os, um a um em Suas Mãos poderosas. “Quem se abandona a Deus não tem lugar em seu coração para a angústia”. Apegue-se a estas promessas extraordinárias de vitória que Ela lhe dá hoje! E a paz entrará no seu coração! E a Alegria virá! Você não pode experimentar a verdadeira Paz enquanto não aprender a confiar na Rainha da Paz! Lance fora as suas preocupações porque elas o afastam de Deus e de sua Mãe Maria. A Rainha da Paz quer utilizar os meios por nós jamais imaginados para entrar em nossas vidas porque Ela quer nos fazer conhecer a verdadeira Paz. Por essa razão, renove a sua esperança, e diga à Mãe que tanto o ama: “Maria, passa na frente!”
Denis Bourgerie
[Bourgerie, Denis. Uma passageira especial no voo de tua vida. Em: Denis e Suzie Bourgerie. Maria, passa na frente! 37ª. ed. Campinas, SP: Edições Logos, s/d, p. 35.]

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Vasco Arruda

Passaram-se vagarosos anos, Maria, mãe querida, e cada traço no rosto ou grisalho no cabelo representava um gesto de gratidão pelos dons da existência que se contavam como conquistas e sonhos de vitória, com a doçura alegre do dever cumprido e da missão realizada. Com o rosário nas mãos, nesses serenos anos, entendo cada vez com maior nobreza que minha vida foi um projeto divino no mundo, e que caminhar sob o teu olhar místico e maternal significa a maior felicidade do mundo.
Pe. Antônio Sagrado Bogaz
[Bogaz, Pe. Antônio Sagrado. Nos passos de Maria: para meditar o rosário a cada dia. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 10. – (Coleção um mês com…)]

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Vasco Arruda

É assim que se fala da “santidade original” de Maria, atribuída à obra do Espírito Santo, que a plasmou e dela fez nova criatura; do próprio Espírito Santo, que na anunciação consagrou e tornou fecunda a virgindade de Maria, transformando-a em palácio do Rei e tálamo do Verbo, templo ou tabernáculo do Senhor, arca da aliança ou da santificação (títulos patrísticos, mas ricos de ressonâncias bíblicas); da relação sublime existente entre o Espírito Santo e Maria, comparável ao aspecto esponsal, por causa da qual a Virgem foi chamada santuário do Espírito Santo, expressão que enfatiza o caráter sagrado da Virgem, que se tornou morada estável do Espírito de Deus; da plenitude de graça e da abundância de dons com que o Espírito enriqueceu a Virgem, de modo tal que ao Espírito Santo foram atribuídas a fé, a esperança e a caridade que animavam o coração da Virgem, a força que sustentava a sua adesão à vontade de Deus, o vigor que a mantinha de pé na sua compaixão junto a cruz; da particular influência do Espírito no Magnificat, em que Maria se faz porta-voz profética da palavra de Deus; da descida do Espírito no pentecostes, com Maria presente junto á igreja nascente, fundamento do recurso à intercessão da Virgem para obter do Espírito a capacidade de gerar Cristo na própria alma.
A. Amato
[Amato, A. Verbete: Espírito Santo, p. 458. Em: Dicionário de Mariologia. Dirigido por Stefano De Fiores e Salvatore Meo. Tradutores: Álvaro A. Cunha, Honório Dalbosco, Isabel F. L. Ferreira. – São Paulo: Paulus, 1995. – (Dicionários)]

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Vasco Arruda

A mariologia supera em muito o simples dado bíblico revelado. Maria de Nazaré não é um simples personagem como Simão Pedro, ou Paulo, ou Maria Madalena. Esses são personagens circunscritos em sua historicidade e, quando vão além dela, fazem-no a partir de uma espécie de exemplaridade de tipo hierárquico-institucional ou espiritual. O caso de Maria vai além. Ela emerge como um personagem arquetípico. Mais ainda: não poucos entendem que ela não é só um personagem do passado, mas que é “contemporânea” de todas as gerações que a sucedem, por aplicar-lhe a mesma imagem que Karl Barth refere a Jesus Cristo.
É preciso perguntar-se a que responde esse sentimento tão profundo que se detecta nos povos, na gente, para com Maria, e não só em épocas passadas, mas também atualmente. Que motivos existem para que milhares e milhares de pessoas acorram a seus santuários, reúnam-se neles para orar, escutar a Palavra, encontrar-se com Jesus eucarístico, experimentar o consolo e ternura de Deus através dela?
José Cristo Rey Garcia Paredes

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Vasco Arruda

Em Maria refulge a condição do perfeito discípulo de Cristo. As categorias que ilustram a relação Maria-Igreja podem ser sintetizadas na comunhão e na exemplaridade: com e como Maria a Igreja crê, espera, ama, celebra, vive o mistério de Cristo, rumo à plena participação ao Reino dos céus.
Corrado Maggioni
[Maggioni, Corrado. Verbete: Maria, p. 1031. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010.]

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Vasco Arruda

Certa vez, um estudante de teologia entrou numa grande livraria católica em busca de bibliografia atualizada sobre Maria. Perguntou ao atendente: “Onde estão os livros de mariologia?”. O funcionário da loja ficou um pouco assustado com a pergunta. Imediatamente se refez da surpresa, e disse: “Ah, livros sobre Nossa Senhora… Temos vários!”. E apresentou uma estante repleta de caderninhos, livretos e livros nos quais estavam expostos novenas, ladainhas, terço em família e tantas outras devoções. O cliente insistiu: “Mas eu quero livros de mariologia!”. “Eles estão aí e lhe garanto que são muito bons! Todo dia tem gente que vem comprar!”
Esse simples fato elucida algo comum nos meios católicos. Confunde-se facilmente o estudo sobre Maria, esta disciplina da teologia denominada mariologia ou marialogia, com a devoção mariana. Ambas são legítimas, mas comportam formas diferentes de se aproximar da Mãe de Jesus. A devoção compreende a relação de entrega, confiança, súplica, discernimento, gratidão e louvor a Deus e aos santos. Está no âmbito da religiosidade, das práticas culturais. Expressa a dimensão mística e culturalmente situada da crença. Já a mariologia exercita outra dimensão da fé: o conhecimento. Pois quem ama quer conhecer o(a) outro(a) para amá-lo(a) melhor e construir uma relação lúcida e madura. A piedade mariana sem teologia corre o risco de perder a lucidez, mover-se sem critérios e limites e degenerar-se em crendice. Já a teologia sem mística e piedade se degenera num discurso racional que se distancia do fascínio divino. Mostra-se desrespeitosa e pastoralmente inconsequente.
Ir. Afonso Murad
[Murad, Ir. Afonso. Introdução, p. 7. Em: Maria no coração da Igreja: múltiplos olhares sobre a Mariologia / União Marista do Brasil. – São Paulo: Paulinas: União Marista do Brasil – UMBRASIL, 2011. – (Coleção Maria em nossa vida)]

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Vasco Arruda

Todos sabem que a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por três pescadores no Rio Paraíba, em 1717. Além de seus nomes, entretanto, nada se conhece sobre aqueles homens. O documento que registra o fato foi assinado em 1757 pelo vigário João de Morais e Aguiar, sob o título “Notícias da Aparição da Imagem da Senhora”. Ele conta que tudo começou quando o governador da capitania passou pela vila de Guaratinguetá e sentiu vontade de comer peixe:
“Entre muitos, foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em suas canoas. E principiando a lançar suas redes no porto de José Correa Leite, continuaram até o porto de Itaguaçu… sem tirar peixe algum”.
Que homens eram aqueles? Teriam sido fidalgos ou diletantes donos de terra que pescavam para se divertir? Ou seriam gente simples que tentava sobreviver em um dos lugares mais pobres da colônia? De qualquer modo, foram eles os responsáveis pela origem daquilo que é, hoje em dia, o mais importante fenômeno de religiosidade popular no país – o culto à Padroeira do Brasil:
“E lançando neste porto João Alves a sua rede de rasto, tirou o corpo da Senhora sem cabeça. Lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça da mesma Senhora, não se sabendo nunca quem ali a lançasse”.
Luciano Ramos
[Ramos, Luciano. Aparecida: Senhora dos brasileiros: a história de uma devoção na origem de um povo. – São Paulo: Paulinas, 2004, p. 7.]