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40. O baú do escriba Artaban

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Vasco Arruda

Com efeito, assim diz o Senhor Iahweh, o Santo de Israel: Na conversão e na calma estava a vossa salvação, na tranquilidade e na confiança estava a vossa força. À voz do teu clamor, ele fará sentir a sua graça; ao ouvi-lo, ele te responderá. Aquele que te instrui não tornará a esconder-se, sim, os teus olhos verão aquele que te instrui. Teus ouvidos ouvirão uma palavra atrás de ti: “Este é o caminho, segui-o, quer andeis à direita quer à esquerda”.

Is 30,15a;19b;20b-21

Vasco Arruda

“Abra na página quinhentos e trinta e oito e leia o capítulo XI”. O dia não havia ainda amanhecido quando, absorto em minha meditação , com as mãos pousadas sobre o volume de nada menos que 1996 páginas contendo a mais refinada espiritualidade, fui surpreendido pela inconfundível voz. Não esperava que ele me aparecesse antes do dia primeiro, quando, conforme sugerira, eu deveria dar continuidade ao desenho da Mandala da Vida. Mas apareceu, pegando-me de surpresa mais uma vez. “Leia o capítulo XI”, prosseguiu, “e a seguir volte ao Prólogo, lendo tudo desde o início até o último capítulo

Vasco Arruda

Estranhamente ele me apareceu num local e horário absolutamente insólitos, digo, inabituais. Foi por volta do meio-dia. O odor peculiar anunciou-me sua chegada, com um discreto farfalhar de páginas soltas sobre a mesa, quando uma suave brisa varreu o ambiente. Ergui os olhos e divisei seu vulto. Foi então que ele me sorriu. Sim, Dom Cristiano me saudou com um sorriso, e que sorriso! Senti tanta alegria e tanta beatitude naquele sorriso que me quedei mudo diante dele. Acho que se passaram uns dois minutos em que apenas nos olhamos, numa secreta comunhão mediada por seu sorriso. Eis, porém, que ele resolve falar.

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Vasco Arruda

Muitas vezes refleti aqui sobre onde estariam os limites entre a necessária resistência contra o “destino” e a igualmente necessária submissão. (…) Creio que realmente devemos empreender coisas grandes e próprias, mas ao mesmo tempo fazer o que é óbvia e universalmente necessário; precisamos enfrentar o “destino” – o fato de esse conceito ser “neutro” me parece importante – com a mesma determinação com que devemos nos submeter a ele em tempo oportuno. Só de pode falar de “condução” para além desse duplo processo; Deus não vem ao nosso encontro apenas como um tu, mas também “disfarçado” de “isso”; portanto, a minha questão trata, no fundo, de como podemos achar um “tu” nesse “isso” (“destino”), ou em outras palavras – (…) – como o “destino” torna-se de fato “condução”.
Dietrich Bonhoeffer
[Bonhoeffer, Dietrich. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. Tradução de Nélio Schneider. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003, Carta para Eberhard Bethge, p. 306-307.]