“Não podeis servir  a Deus e ao dinheiro”, esse versículo bíblico do Evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 24 é o lema da Campnaha da Fraternidade de 2010 e dele me aproprio para fazer a reflexão que segue.

Certo é que não podemos servir a dois senhores, pois como diz o próprio ensinamento de Jesus,  amaremos a um e desprezaremos ao outro.É certo que vivemos sob a batuta do capitalismo e não temos como escapar pois somos filhos de nosso tempo, estamos submissos ao regime econômico predominante, isso é inevitável.

Contudo, o fato desta filiação temporal não nos permite abdicar dos valores cristãos que devem reger nossa conduta no campo da economia. Duas virtudes são indispensáveis, a caridade e a justiça.  A primeira deve ser o sentido maior de  nossas ações, já a segunda permite a construção de um mundo melhor, mais solidário e fraterno.

A lógica do mercado que transforma tudo em mercadoria não dispensa nem mesmo Deus e dele deseja  fazer mais um produto de consumo. Muitas denominações religiosas associam a bênção de Deus simplesmente ao acúmulo de bens e a constância de êxitos, a mesma concepção que governa o senso comum da economia na sociedade, o que não é verdade.

Deus  não está à venda. A fé não é um produto mercantilista, trata-se de algo impagável e de valor transcedente aos bens que passam. Logo, apresentar os dons divinos como algo a ser conseguido por determinada quantia é um crime contra a boa fé das pessoas.

É mentiroso quem, através da coação, afirma ser mais abençoado aquele que doa mais. Deus vê o coração, não é o quantitativo do gesto de generosidade, mas a qualidade que permeia essa ação que conta diante de Deus.

A teoria da prosperidade, corrente presente em várias denomnações cristã incorre num grande perigo, transformar Deus e seus dons num produto de consumo como outro qualquer. E o pior, fomentam o ídolo do dinheiro colocando-o em pé de igualdade com Deus, como se ambos fossem equivalentes.

Fico decepcionado ao ouvir determinados testemunhos de pessoas que seguem essa teoria. Contam que antes de conhecer Jesus eram pobres, não tinham nada. Enumeram suas dívidas e necessidades materiais. Em seguida contam que ao conhecerem Jesus …Aí quantificam os bens materiais que passaram a possuir, citando inclusive as marcas. Pura apelação.

Deus preocupa-se com nossas necessidades e dela nos pode tirar. Ele não quer seus filhos na penúria e na miséria. Mas não se pode associar a bênção de Deus à marca de seu carro ou à sua conta bancária, ou ainda  à quantidade de casas que possui. Esse não é o anúncio puro do evangelho, mais parece propaganda de investimento, como se dissessem, “venham para minha igreja que você enriquecerá, sera abençoado”.

Neste tipo de pregação alinha-se o evangelho à mais cruel potência do capitalismo, o que é inaceitável. Deus e seus dons não estão a venda. Diga isso pra quem vende Deus, para quem se aproveita da boa fé  das pessoas simples e às vezes aviltes por enriquecer na noite para o dia. Muitas vezes o efeito se dá, justamnete, ao contrário. Cuidado.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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