Por Bruno Paulino*

Para minha irmã Tereza, devota de Santa Terezinha.

MARIA
Que linda estavas no dia
Da Primeira Comunhão,
Toda de branco, Maria,
Com rosas brancas na mão.

Nossa Senhora esquecia
Ao ver-te, a sua aflição,
E eu, contrito – que heresia! –
Te rezava uma oração.

Pois quando te vi, de joelhos,
Pousar os lábios vermelhos
Nos pés do Cristo, supus

Que eras Santa Terezinha,
A mais linda e mais novinha
Das esposas de Jesus!

Eu não sou o melhor exemplo de católico fervoroso, pois quase nunca vou à missa, mas tenho muita inveja de quem tem fé, de quem reza com devoção seja para qual credo for. Tenho verdadeira paixão pela mística e a história de São Francisco de Assis, mas confesso que sou um sujeito de fé fraca. Penso que a fé deve ser algo biológico: a gente já nasce com ou sem ela.

O poema que abre essa crônica é de Mario Quintana e foi publicado no livro Baú de Espantos, claramente composto com inspiração em passagens da vida de Santa Terezinha do Menino Jesus. Dizem – não tenho como provar – que o poeta gaúcho era devoto da Santa. Não sei se o Mario Quintana tinha fé em alguma coisa além da poesia. Confesso que nunca tinha ouvido falar em Santa Terezinha até que uma senhora amiga de minha mãe – conhecedora de um problema que eu estava atravessando – me disse que estava rezando por meu intento a novena das rosas.

Segundo a tradição ao rezar a novena das rosas de Santa Terezinha o crente espera receber uma rosa, que não pode ser pedida – tem que ser dada espontaneamente – como sinal que seu pedido será atendido. Eu agradeci a senhora por está rezando por mim, mas continuava cético quanto à solução de meu problema.

Engraçado que nesse mesmo período uma colega minha emprestou-me o livro História de uma alma, escrito de próprio punho por Santa Terezinha – best-seller na França logo após sua publicação (1898). Confesso que me impressionei com a vida da Santa, sua obsessão e luta para se entregar inteiramente aos desígnios de Deus. A depressão na infância, a orfandade, o martírio da tuberculose, sua escrita apaixonada pelas pequenas coisas e a natureza, sobretudo, apaixonada pelas flores, com destaque, é claro, para as rosas. Acabei lendo o livro em menos de uma semana.

Não muito dias depois de a senhora amiga de minha mãe ter me comunicado que estava rezando a novena de Santa Terezinha para a solução do meu intento, eu estava numa fila de espera num consultório lendo e ao meu lado uma mãe com uma menininha no colo também esperavam por atendimento. Com a demora a menininha desatou a chorar e não parava, e a pobre da mãezinha já estava agoniada, então, tirei meu celular do bolso e coloquei um filminho no youtube e dei a menininha para assistir, e logo ela se acalmou. A mãezinha me agradeceu e ficamos conversando até que chegou minha vez de ser atendido e a cedi para a mãezinha e sua filha. Foi então que quando elas saíram da consulta a menininha de mãos dadas com sua mãe me deu uma florzinha rósea feita de papel crepom. Guardei a flor dentro do livro que estava lendo e segui para o meu atendimento. Só quando cheguei em casa me lembrei de Santa Terezinha e da novena das rosas que a senhora amiga de minha mãe estava rezando.

Poucos dias depois meu problema estava resolvido. Às vezes gosto de pensar que tudo se deu por intercessão de Santa Terezinha que tendo ouvido a prece da amiga de minha mãe lá do céu mandou como graça uma chuva de rosas e bênçãos.

***

Bruno Paulino é cronista e aprendiz de passarinho

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Colaboradores LDB

Colaboradores do Blog Leituras da Bel. Grupo formado por professores, escritores, poetas e estudiosos da literatura.

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