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A ideia de errar e acabar falindo o negócio é um medo que paira sob todos os empreendedores, sejam eles novatos ou não. Mas o bom empreendedor segue em frente

Errar é comum e, em certo nível, importante para o empreendedor. Apesar da imagem do empreendedor de sucesso indicar o contrário, os bastidores escondem várias decisões ou tentativas falhas, principalmente no estágio de startups. Segundo pesquisa realizada em 2017 pelo projeto Inovativa Brasil, 29% das startups não conseguem se manter no Brasil. Para Fred Gurgel*, consultor de empresas, isso ocorre porque a maioria das startups começa com uma ideia, e não com uma oportunidade de negócio para qual a sociedade esteja predisposta a pagar.

Ainda assim, engana-se quem acredita que empresas já estabelecidas estejam protegidas de falir. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, o número de empresas cadastradas no Cadastro Central de Empresas (Cempre) recuou 1,3%, totalizando uma perda de 64 mil organizações no Brasil.

Gurgel aponta questões ligadas à condução das empresas como os principais erros de instituições “mais velhas”. “Os equívocos de gestão são uma meta mal estabelecida, um método mal elaborado, más contratações e dificuldade de encontrar mão de obra qualificada”, explica. Além disso, desde o surgimento do e-commerce, a maneira de empreender tem mudado. O consultor percebe que as empresas têm apenas reagido às mudanças, ao invés de prevê-las e inovar.

Mas calma, o mundo não vai acabar só porque ocorreram erros. Um bom empreendedor busca aprender e seguir em frente para não cometer o mesmo erro duas vezes. Conversa com investidores e com empreendedores experientes, faz consultorias e, principalmente, se qualifica.

Gurgel indica prototipar o negócio antes de “pensar que ele vai dar certo de primeira”. Segundo ele, o empreendedorismo é um mundo incerto, no qual o empreendedor deve transformar as “incertezas em probabilidades mensuráveis”.

Aprendendo com as experiências
O Capitão Mostarda funcionou durante 11 anos. Mas nem sempre em águas calmas, relembra Vanessa Santos, antiga proprietária da lanchonete e atualmente consultora de gestão de negócios gastronômicos. “As quatro funções do administrador são: planejar, organizar, liderar e controlar. Cada etapa dá muito trabalho no dia a dia. Então, na maioria das vezes, não chegamos na quarta”, confessa.

Quando começaram a ter problemas financeiros pela falta de controle na gestão do Capitão Mostarda, os sócios cometeram outro deslize: desviar do conceito. Vanessa tentou vários artifícios para melhorar os resultados, como mudar o cardápio e até mesmo oferecer música ao vivo, mas nada disso fazia parte da proposta inicial. “O conceito, uma vez definido e aceito pelo público, torna-se o maior tesouro da empresa e deve ser protegido. Eu não fiz isso”, lamenta.

No decorrer de sua atividade como gerente da lanchonete, Vanessa aprendeu muito com os desacertos. Em uma oportunidade que teve de trocar cerveja por chope, o movimento reduziu pela metade em apenas 15 dias. Situações desse tipo abriram os olhos dos sócios do estabelecimento para a importância do apoio e participação do público para o sucesso do local. Agora, em suas consultorias, Vanessa Santos não deixa de usar os equívocos com a lanchonete como exemplos. “Eu uso o Capitão como minha faculdade, e os clientes que já tive como minha experiência profissional”, declara.

*Fred Gurgel é consultor no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará (Sebrae/CE)

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