Arte de Hélio Rôla

Vocês sabem o que eu acho mais impressionante na administração pública? (Tirante o mau serviço, em alguns setores, pois isso é o esperável, mas nunca justificável).

É o modo como alguns gestores tentam justificar a falta de competência, má gerência ou seja lá o que for.

Educação municipal

Na edição de hoje (15/9/2010), O POVO publicou duas matérias relativas à precariedade da rede escolar municipal de Fortaleza: Faltam professores em 33 escolas – um levantamento da repórter Larissa Lima, que consultou 60 delas e verificou que em mais da metade faltava pelo menos um professor – e Apenas uma aula de ciências desde abril, revelando o drama de uma menina de 11 anos, que sonha em ser bióloga, mas está sem aula de Ciências desde o início do período letivo. Esta matéria assinada por Janaína Brás.

Pois bem, ao consultar a Secretaria Municipal de Educação, a “assessora de gestão”, Tereza Cristina, explicou que uma das causas do problema da falta de professores são as licenças, pois “a gente não tem como prever esse tipo de carência”. (Observe que na Prefeitura sempre é um “assessor” a dar explicações ao distinto público, pois os gestores mesmo, estes não têm tempo para essas miudezas.) Veja aqui.

Trâmite burocrático

Mas, por todos os deuses, como não há como prever uma coisa tão simples? Se é possível prever até chuva, como não se pode ter a média de licenças por ano e manter uma reserva de professores para atender à demanda?

A propósito, ela diz que não tem como prever as licenças – e não sabe nem mesmo uma coisa mais simples ainda: quantos professores estão faltando para completar o quadro das escolas.

Mas, “assessora de gestão” continua com as suas explicações: diz que são pelo menos 45 dias de trâmite burocrático, entre a chamada de um professor substituto e o efetivo “começo do exercício”. (Pense você, que tem o filho em uma escola particular, o que diria ao diretor se ele lhe avisasse que seu filho ficaria 45 dias sem aula em caso de licença do professor titular.)

Assessores e titulares

E, mais, se o “trâmite burocrático” tem um prazo tão elastecido, o que a gestão está fazendo para reduzi-lo a um dia, o que seria o razoável em se tratando de crianças sem aula?

Façam-me o favor: a “assessora de gestão” deveria se preparar melhor, ou indicar como fonte a quem ela assessora, se é que da secretária da Educação Municipal se poderia obter respostas melhores.

Para lembrar: a) no início de 2009, quando 87 creches geridas pelo governo do Estado foram repassadas ao município, centenas de crianças ficaram sem aulas por vários meses, pois a Prefeitura não tinha um plano para absorvê-las; b) no Space [Sistema Permanente de Educação Básica do Ceará], que mediu o nível de alfabetização dos alunos,  Fortaleza ficou entre as 14 piores cidades avaliadas. No Ceará são 184 municípios.