No período de dezembro, o famigerado espírito natalino envolve as pessoas a ponto de estas se tornarem mais sensíveis, abertas à solidariedade, reflexivas e atentas ao outro. Contudo, os efeitos se restringem, não raras vezes, apenas a este momento. Os demais onze meses do ano são vividos na indiferença e no completo distanciamento do que tanto se fala no Natal.

A música que anima celebrações há séculos no mês 12 do calendário cristão e embala corais nos diversos pontos da cidade, “Noite Feliz”, torna-se, fora do Natal, uma licença poética violenta a quem sofre. O dorme em paz, ó Jesus cantado à exaustão mais parece uma desculpa para a inércia da caridade que nos abate.

Como pode dormir em paz um recém-nascido, numa estribaria de animais, baforado pelos asnos, umedecido pelo clima noturno, envolto por palhas? Não  é isso que talvez dizemos, ao menos em nosso íntimo, ao dar uma esmola a um pobre, “fique em paz!”. Mas como ficar em paz ao relento? Como dormir na tranquilidade  sem um teto e alimentação digna?

A chamada magia do Natal deveria dar lugar a uma vivência humanística da época. Bons sentimentos se esvaem, boas intenções não bastam para a construção de um mundo melhor. O Menino da manjedouro está lá, todos os anos a procura de nos ensinar o sentido do amor verdadeiro, do que venha a ser o segredo da felicidade, a doação total e irrestrita de si.

Ainda numa provocação final poderíamos cantar esta canção para a nossa consciência trocando o nome Jesus pelo nosso?

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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