A sede por lucro do comércio faz antecipar uma série comemorações entre elas a do Natal. Assim que termina os festejos do Dias das Crianças as vitrines já começam a avermelharem-se e os Noéis se multiplicam quer sejam como personagens humanos quer seja em representações, esculturas, bonecos.
Nos shoppings, os templos do consumo, reina o velho Noel. Recebe todas as honrarias, desce de helicóptero, alguns em Rapel, e ao centro do mercado moderno, o panteon do consumo encontra lugar de destaque o, dito, bom velhinho. As crianças se amontoam para vê-lo, tirar uma foto, entregar uma carta. Os pais, esbabacados assistem à cena com a reminiscência de não ter desfrutado de tempo igual na infância.
O comércio pensa em tudo, não precisa pagar agora, ou então, pode aproveitar o estipêndio extra de final de ano. Só não vale dançar fora do ritmo, encarar com seriedade uma proposta de Natal cuja pilastra mestra seja a solidariedade, a pobreza, a austeridade no consumo. Isto, não. É coisa inadmíssivel. Natal é tempo para esbanjar, encher-se de dívidas, agradar gregos e troianos com presentes, presentes e mais presentes.
O marketing se ocupa de revestir a idolatria que se insurge no tempo com uma roupagem de festa, aparente alegria. Repete o que fez com Noel. O velhinho que era uma lembrança do generoso bispo Nicolau, um santo da Igreja Católica, recebeu de uma famosa marca de refrigerantes as roupas vermelhas e a pecha de mascote do Natal, ou do consumo neste período.
Enquanto se deslumbram com os piscas-piscas esquecem-se da verdadeira luz que não se apaga, nem sofre intercorrência. Lembremo-nos que o vermelho do consumo não se une ao branco da sobriedade. O velho Noel parece avultar-se sobre o Novo, a pequena criança, que nos shoppings, por exemplo, revive o escondimento de seu nascimento em Belém. Junto com as imagens de José e Maria são colocados na estribaria do estabelecimento sem nenhum brilho ou holofote.
As figuras do Natal nos põem mais uma vez na temática da luta que vivemos entre o velho e o novo. A quem escolhemos, o velho o Noel ou o novo Menino? Pelo que optamos, em presentear somente os nossos escolhidos ou em praticar a verdadeira solidariedade, a de ajudar até mesmo quem não conhecemos? Encantamo-nos com a frivolidade das luzes ou aspiramos uma sem ocaso? Acreditamos que o ano vindouro será um sucesso por força de pensamento positivo ou pedimos o dom da fé? Afinal, neste natal, com quem nos tornamos mais parecidos, com o velho ou com o Novo?
Como havia escrito, dias atrás no meu twitter; O Natal tornou-se uma convenção social.
O natal nos mostra o quanto a religião é falha no sentido de tentar incutir alguma moral em seus crentes; como o blogueiro colocou, o natal ficou “atraente” pelo consumo e pelos presentes, o que mostra a grande hipocrisia da população em geral, que seguem uma fé enquanto ela não atrapalha seus objetivos em geral.
Mas também é necessário salientar que a igreja também lucra com o natal; lojas e livrarias católicas e evangélicas vendem aos montes presépios, imagens, livros, velas, jóias, tudo com motivos religiosos. Padres católicos publicam livros, cds e dvds com canções “natalinas” que invadem as lojas; o turismo religioso lucra como nunca (vide Aparecida do Norte, onde lojas de “bons cristãos” tem a coragem de cobrar R$ 3,00/4,00 por uma garrafa de água; e onde fica a usura? Onde está a tal lição dos vendilhões do templo?).
Tudo isso não é feito apenas para propagar o amor e o desapego, senão os livros, cds e outros produtos seriam dados aos fiéis, ou pelo menos seria cobrado seu preço de custo, o que não ocorre.
Esse talvez seja o exemplo de como até a própria religião se rendeu ao Natal do Papai Noel…