Dona Nilde ou comadre Nilde, porque ouvia meus pais a chamando, era assim que eu me referia a esta distinta senhora, tão acolhedora e amável que partiu neste domingo, dia 29, para a Casa do Pai, durante a noite. Maria Ivanilde Maranhão, 75 anos, era de Morrinhos, da localidade de Espinhos. A notícia de sua partida me deixou comovido e de alguma forma me exigiu homenageá-la.
Mãe de 8 filhos, esposa exemplar, viveu toda a vida na cidade para onde agora seu corpo foi trasladado. Dona de casa, mas também professora do Mobral e uma costureira muito talentosa. Dedicada, atenciosa e silente, uma mulher que viveu para a família e por ela não poupou esforços.
Recordo-me que as minhas idas à sua casa quando criança eram motivo de muita alegria. Casa cheia, comida farta e ela conseguia dar atenção a todos, inclusive a mim. Naquele tempo, as crianças, por serem muitas e até por preferirem, se sentavam ao chão na hora da refeição ou iam para outro lugar. Mas lembro-me que na casa de dona Nilde ela me dizia “venha para mesa meu filho”. Parece que escuto novamente aquele timbre de voz tão peculiar e amável.
Aquele convite “venha para mesa meu filho”, aparentemente tão simples, ressoava em mim como acolhimento que agora, trinta e poucos anos depois, me trazem algumas lágrimas aos olhos, misturadas com sorrisos devido às boas lembranças em sua casa, no alpendre ventilado e no terreiro sempre limpinho.
Ontem foi dona Nilde quem escutou de Nosso Senhor o convite para tomar parte do banquete que lhe foi preparado: “venha para a mesa minha filha”. Ela que alimentou a tantos, que se desdobrou para acolher bem, agora recebeu o prêmio dos bem aventurados.
O sofrimento também marcou sua vida é verdade. Tive a oportunidade de visitá-la em Fortaleza quando estava tratando de uma enfermidade. Fazia muitos anos que não a encontrava, mas logo pude reconhecer aquele timbre de voz amável e aqueles olhos falantes. O acolhimento era o de sempre.
Não era mais a criança de seis ou dez anos que frequentava a sua casa, estava acompanhado de minha irmã e de minha mãe, que por ela nutre um carinho imenso. Foi um encontro agradável, a última oportunidade que tive de vê-la presencialmente. Nestes dias últimos recebi de minha mãe o mandado de fazer o que pudesse por dona Nilde, e tentei fazer. Todos tentaram. Mas era chegada a hora.
Que a sua partida dona Nilde nos deixe o ensinamento de que tudo passa, até a nossa vida. O que resta? Fica o legado daquilo que fizemos, e a senhora deixou uma herança importante. Desfrute agora da Paz duradoura. “Venha para a mesa minha filha”, é o próprio Deus quem a chama.
Vá em Paz!