Com personagens originais, novo anime de Digimon se passa em 2020 e tem trama pautada na influência da internet na sociedade
Era 1999 quando Digimon Adventure ganhava as telas do Japão e da América do Norte mostrando as aventuras de Tai, seu grupo de amigos (“Digi Escolhidos”), e os monstros digitais que os acompanhavam na missão de proteger dois mundos: o dos humanos e o digital.
A franquia foi diretamente inspirada no Tamagotchi e fortemente influenciado pelo sucesso de Pokémon, que estreou dois anos antes. Nascido como um brinquedo virtual pet, Digimon ganhou séries, jogos e filmes.
O anime dirigido por Hiroyuki Kakudō chegou ao Brasil em junho de 2000, na Fox Kids, e um mês depois na TV aberta, ajudando a Globo a recuperar liderança de audiência. Ganhou ainda uma sequência direta e outra continuação que celebra os 15 anos da série, intitulada Digimon Tri.
“Havia alguma coisa errada com a temperatura terrestre naquele verão…”
Na série original, um grupo de sete meninos e meninas em um acampamento de verão recebem dispositivos e são transportados para a Ilha Arquivo, sem explicação para o fenômeno, enquanto a Terra passa por fortes mudanças climáticas. A busca ao retorno para casa é constante na primeira temporada, como em Caverna do Dragão.
O primeiro episódio cumpre a missão de apresentar os jovens heróis e a versão inicial de cada Digimon. Nos episódios seguintes, são conhecidas as evoluções de cada um e as ameaças que permeiam esse novo mundo. De cara, fica evidente a necessidade de explicar cada detalhe, sem conceder qualquer espaço para o público infantil pensar. E isso não é exatamente uma crítica – é uma observação que faz sentido quando colocada em perspectiva com o novo anime.
A aventura Digimon em 2020
Desta vez com direção de Masato Mitsuka, Digimon Adventure: é um reboot fiel às origens, mas a narrativa começa de forma diferente. Passadas mais de duas décadas, a história ocorre em 2020 e parte de um princípio bastante verossímil com a realidade: a dependência da humanidade à internet.
A toda hora, os personagens são conectados a sistemas de informação que ajudam a compor a história, além de fazer referência visual a redes sociais como Twitter e aplicativos de mensagem instantânea.
O mais interessante na nova versão – e também o que a faz tão coerente – é a dinâmica entre a tecnologia presente na sociedade e a Rede, como é chamado o mundo digital. Ações de Digimon que são verdadeiros hackers afetam diretamente a rotina de homens mulheres como estopins para tragédias em potencial, a exemplo de um trem descontrolado cheio de passageiros e até mesmo ataque nuclear.
Outro destaque são os cenários virtuais. Nos dois primeiros episódios, somos apresentados a uma representação da internet para só depois Tai entrar no digimundo. A evolução também é tratada de forma diferente, com destaque para uma animação bonita, cheia de detalhes.
Se é para ficar com o pé atrás com alguma coisa é como a série aposta no desenvolvimento rápido dos monstros e menos na relação entre os personagens. Por mais que apenas Tai, Matt e Izzy tenham aparecido até agora, muito já foi mostrado do potencial de Agumon, por exemplo, e pouco de quem são esses meninos.
Por enquanto, a impressão que fica é que Digimon está tentando mostrar algo novo e contar uma história mais ousada ao tratar de temas como ciberterrorismo. Menos O Senhor das Moscas e mais Tron, digamos.
Ainda é cedo para dizer se este é o caminho certo, mas definitivamente é algo a estar atento. Afinal, apesar de todo apelo à nostalgia na cultura pop, um reboot de Digimon, por essência, faz sentido.
Digimon Adventure: está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll.