Quando passou a cobrar 50 e não os tradicionais 30 reais para seus jogos na Série B, o Ceará defendia a tese de que estimularia o seu torcedor a fazer parte do programa de sócio.  Para isso, criou uma modalidade de 15 reais mensais, com 50% de desconto no ingresso na bilheteria, e diminuiu em 10 reais a mensalidade dos planos existentes, aqueles que dão ao torcedor o direito de ingresso integral para todos os jogos da equipe como mandante. A estratégia, porém, não era tão simples e nas primeiras semanas nenhum movimento positivo se apresentou, pelo contrário. A realidade era de estádios vazios e prejuízo no borderô.

Paralelamente, em campo, o time passou a jogar mal e a perder jogos atrás de jogos. A diretoria, então, abandonou o preço de 50 reais com uma queda vertiginosa para 10 reais. Assim, foi impossível, sem um movimento perene, saber se a estratégia inicial daria resultado. Imediatamente o público voltou aos estádios e o Ceará passou a ter lucros nas partidas e estádios cheios, tanto que agora tem a terceira melhor média da Série B, com pouco mais de 15 mil pagantes por partida. O ingresso, entretanto, é o mais barato do Brasil: pouco menos de oito reais por renda bruta.

Não é fácil encontrar a estratégia para atrair mais sócios, mas a transparência total e irrestrita seria fundamental. Outro ponto: a necessidade de uma comunicação correta das vantagens e tal postura não tem sido adotada pela diretoria do clube, especialmente agora, com preocupação exclusiva de tirar o time da zona do rebaixamento. O problema de comunicação foi detectado inclusive pelo vice-presidente Robinson de Castro, que admitiu em entrevista ao programa Futebol do POVO que era preciso melhorar muito neste aspecto.

A diretoria, agora, adota uma postura de definir o preço dos ingressos de jogo para jogo. É uma estratégia que defendo porque cada espetáculo tem um adversário, uma importância, um contexto. Não pode uma partida de primeira fase do estadual ter o mesmo valor de uma final. Não vejo lógica quando a primeira rodada da Série B contra um time pequeno tem o mesmo valor de um jogo decisivo contra uma equipe grande.

Diante do Paraná, no domingo, 30 reais o ingresso. Muitos reclamaram que o “aumento” ocorreu logo depois da vitória contra o Macaé, mas o contexto já é outro e o produto deve ser pensado não apenas em razão do imediatismo da má fase. O torcedor já age assim quando deixa de associar ou não paga mensalidade quando o time está mal – ocorreu queda no número de sócios recentemente, baixando dos 10 mil.

Caso o Ceará seja rebaixado a equipe não vai acabar. Seus torcedores de verdade vão continuar nutrindo paixão pelo clube, independente de divisão.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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