Por André Victor Rodrigues

A análise de números no futebol é um terreno dúbio. Pode nos ofertar constatações ou ilusões. Isso porque não há fórmulas para definir com objetividade as percepções sobre o desempenho de times e atletas – é por isso que existem os longos debates, algo que este blog exemplifica bem.

O início do Fortaleza nesta edição da Série C do Campeonato Brasileiro traz à tona mais um caso de como podemos enxergar os dados para além do caráter comparativo. Nas cinco rodadas da competição até aqui, os tricolores alcançaram a marca de 10 pontos em quatro jogos. A marca é inferior a das duas últimas temporadas. Em 2015, o time somou 13 pontos ao fim da 5ª rodada, enquanto em 2014 chegou a 11 na classificação do Grupo A.

Em detalhes de produção em campo, o time de 2016 foi mais vazado do que em 2014 (um gol sofrido contra dois em 2016) e fez menos gols do que em 2015 (dez gols anotados ano passado contra oito na atual campanha da Terceirona).

Significa, então, que este ano o time inspira menos confiança do que aqueles sob o comando de Marcelo Chamusca? Não exatamente.

Mesmo com o início inferior em aproveitamento, o time treinado por Marquinhos Santos traz proposta mais sólida no que diz respeito à implementação de padrão de jogo. O trabalho é melhor em conceitos, e isso faz a diferença quando se tem pela frente tantos adversários diferentes e percalços na fase de grupos e (principalmente) no mata-mata. Para além da mobilidade do time e da polivalência de peças do elenco, hoje há mais estudo, análise sobre o desempenho de cada jogo e planejamento para encontrar antídotos para as deficiências apresentadas jogo a jogo.

Marquinhos sabe reconhecer quando pontos de sua proposta para os 90 minutos não estão oferecendo efetividade, algo que não ocorreu no trabalho de Chamusca nos últimos dois anos e fez muita falta em momentos cruciais – basta lembrar das insistências num esquema tático enrijecido e pouco aberto a mudanças feito em 2015. Radar titular contra o Brasil de Pelotas, Pio na reserva, algumas convicções questionáveis que custaram caro. Hoje as variações táticas, “quebras no sistema”, geram mais credibilidade sobre a capacidade do Leão superar desafios.

Vale lembrar que a atual equipe conquistou os 10 pontos – e o topo da tabela de classificação após a 5ª rodada – lutando contra problemas de lesões no Departamento Médico. Além disso, o elenco sofreu com as saídas de Dudu Cearense e Jean Mota, que estavam no time titular. São mais pontos que geram abertura para interpretações sobre o grosso dos comparativos numéricos. Neste ponto, também há de se destacar a capacidade da atual comissão técnica buscar alternativas dentro do grupo para manter um nível satisfatório nas atuações.

O empate de estreia contra o River-PI e a derrota para o ABC-RN, ambos os jogos realizados no Castelão, serviram de alerta para o Fortaleza. Mas, sem teimosia, o atual técnico já mostrou competência de estudar a fundo os equívocos passados para amadurecer a equipe pensando no andamento da competição. A qualidade de assimilar lições em 2016 traz à atual campanha expectativa diferente sobre o clube tricolor.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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