Luis Eduardo Girão assumiu o Fortaleza oficialmente em junho deste ano, mas desde maio já participava das decisões no clube. Seis meses depois, nesta segunda-feira, 6, a renúncia será anunciada. Por algum momento efetivamente ele pensou em pedir uma licença, mas ficou evidente que essa opção traria um problema para o novo presidente, Marcelo Paz: Girão seria uma sombra constante.

No total, Girão, com quem conversei também nesta segunda na hora do almoço, injetou mais de 6 milhões de reais no clube. Dinheiro do próprio patrimônio (e teve apoio fundamental da mulher, torcedora do Ceará, para tomar tal atitude), que ele só faz questão de receber de volta caso o clube não tenha dificuldades para pagar, ainda assim sem juros e dividindo por muitos anos. Outra possibilidade de alguma parte do valor retornar ao empresário – que vai voltar a morar na Flórida com a mulher e os cinco filhos – é com a venda dos direitos econômicos dos jogadores Everton, atualmente no Grêmio e Jean Mota, atualmente no Santos. A estimativa é que ambos, se negociados, gerem algo em torno de R$ 2,5 milhões.

Quando ele entrou, o cenário era de caos: dirigentes brigando, elenco em crise, perspectivas ruins de acesso e três meses de salários atrasados. Torcedor de arquibancada, apaixonado pelo Fortaleza, Girão nunca sonhou em ser presidente do clube, mas entende após esses meses que o chamamento foi uma oportunidade de aprendizado imenso e não por acaso encara o desprendimento do valor aplicado no clube como uma missão. E uma missão, de acordo com ele, motivada por amor genuíno ao Fortaleza, sem qualquer desejo político ou de se tornar uma figura pública.

Não por acaso, também, o agora ex-presidente entende que apesar de limitado tecnicamente, o elenco do Fortaleza que subiu para a Série B tinha muito caráter e ficou ainda mais forte depois do episódio de agressão que os jogadores sofreram no PV, após o empate por 1 a 1 diante do Remo. Ali, diversos jogadores procuraram a diretoria para ir embora porque ficaram efetivamente com receio, mas o dirigente conseguiu convencê-los prometendo e garantindo união e segurança total. Girão também entende que por isso a relação de confiança aumentou – Marcelo Boeck, além de melhor jogador do time era também líder do grupo – e faz questão de elogiar a postura do elenco, que não exigiu nada a mais do que o combinado para conseguir o acesso. Paulo Bonamigo também gosta de agradecer ao técnico Paulo Bonamigo, que, para o dirigente, teve um papel fundamental de reerguer um elenco em crise emocional quando assumiu o time pós derrota no Campeonato Cearense.

Espírita convicto, financiador de filmes e teatro com a temática religiosa, contrário a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, mantenedor da ONG Estação da Luz, no Eusébio, que faz um trabalho social tocante com mais de 500 crianças estudando e fazendo atividades esportivas e culturais, Girão chegou ao clube não apenas com discurso, mas com atitude agregadora e de perdão. Não por acaso Clodoaldo voltou a entrar no Pici 11 anos depois, onde foi muito bem recebido, inclusive pela torcida. Não por acaso, por iniciativa dele e vontade de que quebrar paradigmas, Fortaleza e Ceará se aproximaram institucionalmente, apesar de divergências atuais e históricas. E assim, com o mesmo discurso, deixa o clube e o futebol: agradecendo, ajudando com ideias – não mais com dinheiro – e torcendo para o Fortaleza sob o comando de Marcelo Paz, a quem confia plenamente.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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