Por Thaís Brito (thaisbrito@opovo.com.br)
Lady Susan é dona de beleza estonteante e modos graciosos. Sabe agradar com palavras e convencer os desavisados de suas melhores intenções, do aflorado instinto materno e da injustiça contida em cada história relatada sobre ela. Mas é nas correspondências com amiga íntima, Alicia Johnson, que a dama revela os planos e artimanhas por trás de cada ação.
Pelas cartas, o leitor acompanha os acontecimentos a partir da ida de Susan Vernon à mansão Churchhill, onde mora o irmão Charles. Viúva há poucos meses, ela arranjara confusões suficientes para querer fugir de fofocas e desafetos em Langford. Em resumo, havia atraído o amor de um homem casado e seduzido um jovem rico. Este último ela não queria para si, mas para a filha Frederica. No entanto, Sir James Martin arriscava se afeiçoar a outra moça solteira. Então, ela resolveu entrar na disputa e segurar o bom partido.
Lady Susan foi escrito por Jane Austen aos 18 anos. É de uma fase em que a autora tinha predileção por pequenas histórias, com personagens de atitudes condenáveis e expostos a situações ridículas. Frutos de uma observação atenta do comportamento humano, dos vícios e das virtudes na sociedade rural inglesa do século XIX. Jane nunca submeteu o manuscrito à publicação, embora seja o único da fase juvenil com a extensão de um romance.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=8MaSK3POHI0[/youtube]A obra foi lançada ao público em 1871 pelo sobrinho James Edward Austen-Leigh – 54 anos após a morte de Jane. A troca de cartas entre os personagens é o diferencial em relação aos outros livros publicados. No entanto, a ideia fora aplicada mais vezes por ela. Os dois primeiros romances acabados, Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito, evoluíram de rascunhos com narrativas epistolares.
Apesar das peculiaridades, o romance carrega os traços característicos da escrita de Jane Austen. Ironia e humor refinado não faltam. Sem precisar recorrer a terras distantes ou aventuras extraordinárias. É na convivência entre três ou quatro famílias que os acontecimentos se desenrolam, já que a diferença de temperamentos e alicerces morais é suficiente para criar pontos de tensão entre os personagens.
Mesmo cheia de defeitos, Lady Susan é uma heroína intrigante. Manipuladora nas correspondências com a melhor amiga, dissimulada quando escreve ou fala aos demais. Sempre preocupada em manter a aparência de uma dama respeitável. Assim, consegue bons resultados com os homens. É das mulheres que vem a maior parte da reprovação e do falatório.
Para ela, a diversão está em flertar o quanto puder e ter conforto enquanto busca homens de fortuna. O cinismo da protagonista chega a ser hilário, e a trama fica mais envolvente à medida que o jovem Reginald De Courcy, irmão da sua cunhada, chega à mansão Churchhill. Logo ele se torna uma presa fácil e o principal passatempo.
Mas nem tudo sai como o esperado. Chega também por carta a notícia de que a filha Frederica tentou fugir da escola para jovens meninas. Descrita pela mãe como “estúpida”, “o tormento da minha vida” e “fatigante”, a adolescente exigirá a atenção que lhe fora negligenciada.
No cinema
A primeira adaptação de Lady Susan para o cinema estreia em agosto no Brasil com o título de Amor e Amizade. O filme é estrelado por Kate Beckinsale, dirigido pelo cult e independente WhitStillman. O primeiro lançamento foi em janeiro de 2016, no Sundance Film Festival, nos Estados Unidos. No Brasil, está previsto para entrar em cartaz no dia 18 de agosto.
Resta a dúvida se o longa será exibido nas salas de cinema de Fortaleza. O último filme do universo Jane Austen foi Orgulho, Preconceito e Zumbis. Ficou em cartaz por menos de duas semanas por aqui.
Serviço
Lady Susan
Edição bilíngue
152 páginas
R$ 28
Editora Landmark