Eles estão presentes nas listas das obras mais vendidas do mercado continuamente. Os livros de autoajuda, nacionais ou traduzidos, colaboram não apenas para leitores organizarem a vida e resolverem problemas, mas “ajudam” também a aquecer o mercado editorial e têm lugar garantido nas casas brasileiras. Apoiadas em conceitos da psicologia e de outras áreas do conhecimento, as publicações enchem as prateleiras de livrarias e de lojas de departamento.
Há edições das mais diversas temáticas, – que versam sobre foco, determinação, disciplina, mercado de trabalho, relacionamentos. Para Adílson Ramachandra, do Grupo Editorial Pensamento, é importante manter filtros na hora de escolher uma obra para publicação. Com mais de 100 anos de existência, a editora conserva alguns títulos no mercado nacional há décadas. “Nosso carro chefe, Alegria e Triunfo, já vendeu 1,5 milhão de cópias”.
Para Adílson, entretanto, a autoajuda sofre preconceito entre leitores, pois, como outros gêneros, ao cair no gosto popular há pessoas que “escrevem apenas para ter lucro imediato e entrar nas listas de mais vendidos”. Existindo, assim, um desserviço para o público leitor – que acaba encontrando nas prateleiras títulos pouco confiáveis e não pautados na fibra moral exigida.
“São livros que oferecem soluções práticas e de certa forma dão esperança de que todos somos capazes de levar uma vida melhor. Isso sem dúvida tem grande apelo, principalmente na contemporaneidade, em que o excesso de tarefas no trabalho e em casa, os desafios da tecnologia e a falta de tempo, por exemplo, podem deixar as pessoas com uma sensação de falta de rumo”, aponta a editora da Intrínseca, Cristhiane Ruiz. A editora não mantém títulos no catálogo, mas acredita que os livros podem auxiliar em atividades práticas da vida e também na construção de uma perspectiva mais positiva do futuro.
Conseguir vislumbrar novas possibilidades para a própria existência, talvez, seja a razão que leva tantas pessoas a adquirir os exemplares. Segundo Adílson, há uma sazonalidade nas vendas acompanhada de momentos extremos na política e na economia. “Agora, o mercado está aquecido, pois há a chamada crise, medo do futuro e ansiedade, além do receio pela violência urbana e pela violência mundial. Em momentos difíceis da história – como na década de 1930 e na década de 1980, o imaginário coletivo é atingido”, explica. Os picos fazem livros de autoajuda dispararem nas listas dos mais vendidos.
Rosely Boschini, sócia-diretora da Editora Gente, lembra que o desemprego dos tempos de crise influencia em dois pontos: as pessoas têm mais tempo para ler e precisam de uma forma econômica de aprendizagem. “É um recurso barato. Se o indivíduo precisa se preparar para uma entrevista de emprego, por exemplo, pode recorrer ao livro”, aponta.
Desenvolvimento humano
A popularização dos livros de autoajuda – e a consequente entrada de autores e editoras pouco comprometidas com as reais motivações e o real valor do gênero – fez com que novas ramificações surgissem. Recentemente algumas listas de livros mais vendidos passaram a adotar a nomenclatura “Desenvolvimento Humano” para designar as publicações que até podem oferecer algum tipo de motivação e ajuda, mas que têm perfil mais técnico, pesquisas sérias e embasamento teórico respaldado na ciência.
É nesse bojo que o cearense Paulo Vieira coloca o próprio trabalho. Ele é autor de O Poder da Ação, que já vendeu mais de 120 mil cópias, e de Fator de Enriquecimento – lançado recentemente, já chegou a marca dos 15 mil vendidos.
Pós-doutor em coaching pela Florida Christian University (EUA), ele explica que os autores e palestrantes tipicamente motivacionais perderam espaço no mercado. Ficou, ele pontua, quem possui pesquisa e base teórica sólida. “Dentro desse campo há os livros inspiradores e motivadores, mas há também o desenvolvimento humano – que possui aspectos técnicos. Hoje, com a crise, as perdas de emprego e a escassez de recursos para treinamento, os livros se tornaram uma solução para o grande público, que precisa estudar e ser treinado”, aponta.