Ela é inumana, transmorfa, pode alterar qualquer parte de seu corpo e tem fator de cura super acelerado. Mas também é uma adolescente muçulmana residente nos Estados Unidos e precisa lidar com provas escolares, falta de dinheiro e cobranças da família. Kamala Khan, personagem que ganhou o título de Miss Marvel, é um dos maiores fenômenos dos quadrinhos produzidos pela gigante do entretenimento nerd.
O sucesso da adolescente -que apareceu pela primeira vez em 2013, em uma das histórias de Carol Danvers, a atual Capitã Marvel – trouxe a expectativa do anúncio de um longa-metragem para a personagem. Para os leitores, Kamala cumpre uma função semelhante ao Homem-Aranha: é jovem, frequenta a escola e precisa lidar com questões cotidianas. “É muito mais fácil nos identificarmos com uma adolescente, classe média, que passa por problemas reais da juventude, do que com um homem bilionário ou um alienígena. A realidade de Kamala é muito mais palpável”, diz Hillary Maciel, estudante de publicidade e crítica de cinema do blog Quarto Ato.
É fato que tanto Marvel quanto DC têm tentado imprimir outros grupos e outras representatividades nas produções, fugindo do padrão de “homem, branco, rico, alienígena, sofrendo por um amor impossível”. “Os estúdios responsáveis pelas produções cinematográficas têm percebido a necessidade de se posicionar, ainda que sob interesses duvidosos, quanto a diversidade de seus personagens”, diz Hillary Maciel.
Kamala Khan
“Não acho que faltem personagens femininos, o que eu percebo é que, diferente da Mulher-Maravilha, elas não têm tanto destaque quanto os personagens masculinos, que têm quadrinhos próprios, filmes próprios. Isso está mudando já tem um tempo, por exemplo, temos quadrinhos da Miss Marvel, da Viúva-Negra, da Elektra, da Jessica Jones, que inclusive tem seriado em que ela é o personagem central, assim como SuperGirl, da DC. Tem outras personagens que que podem ser citadas. Nos quadrinhos nacionais nós não podemos esquecer da Mônica, que não só é uma personagem feminina, como é dona da rua do Limoeiro, mesmo sem superpoderes”, lembra Rebeca Nolêto, leitora de quadrinhos que foi introduzida no universo geek através dos longas-metragem.
Ela completa: “Tenho notado que personagens, sejam mulheres, negros ou personagens de outras nacionalidades que não a americana, mostram que esses grupos são tão importantes quanto o “grupo dos homens brancos”. Dessa forma, eles se sentem empoderados, capazes de lutar pelos seus direitos. É uma afirmação de que elas também podem e são capazes de fazer coisas banais ou incríveis, da mesma forma que um homem branco, mesmo que isso não signifique, propriamente, salvar a cidade de uma ameaça alienígena, mas só coisas comuns do dia a dia”.
Miss Marvel
Para os fãs, o anúncio de um filme solo da Miss Marvel é apenas uma questão de tempo. O presidente da Marvel, Kevin Feige, já deu indicativos de que o filme está a caminho, mas sem detalhes sobre elenco e direção. A personagem atraiu um público jovem e feminino em busca das histórias em quadrinhos e se tornou um sucesso editorial evidente.
“É um trabalho contínuo. Quando fala-se de representatividade em filmes de super-herói, não podemos fingir que não há interesse econômico nisto. Os estúdios que cuidam das grandes produções reconhecem o potencial de um público a mais em ser alcançado. Ainda está longe de ser o ideal, uma vez que a representatividade não deve ser restrita às personagens. É preciso mais mulheres, mais negros, mais LGBTS na realização destes projetos. A representatividade surge desde a sala dos roteiristas até a promoção do filme. Felizmente, estamos caminhando para um futuro no qual haverá justiça na representatividade. Mas ainda há muito a ser feito. Nós, leitoras, fãs e amantes da cultura pop, não devemos parar de ocupar os espaços da cultura nerd. Queremos ser ouvidas, bem representadas e, claro, nos divertir com o que vem por aí”, diz Hillary.
“Não só acredito (no anúncio do filme), como espero que aconteça. Antes de ser consumidora de quadrinhos, eu sou consumidora de filmes, então meu ingresso real no mundo dos quadrinhos de super-heróis se deu por causa dos filmes e não o contrário. Quem sabe tendo um outro personagem adolescente, só que dessa vez uma garota, faça crescer ainda mais o público feminino e o público jovem dos quadrinhos”, pontua Rebeca Nolêto.