Aline Adisaka durante entrevista no Cabaré du Vento, na praia do Preá (CE).

Aline Adisaka durante entrevista no Cabaré du Vento, na praia do Preá (CE). Foto: Natália Fonteles.

De férias, Campeã brasileira de Stand Up Paddle (SUP) Aline Adisaka (@alineadisaka) se rendeu aos encantos e beleza do litoral cearense e aproveitou os últimos dias de janeiro para conhecer Jericoacoara.

O convite para viajar para Jeri surgiu durante o campeonato de SUP em São Paulo em 2017, quando a paulista de Ubatuba conheceu a campeã cearense de SUP Wave, Marine Fernandes (@marinefernandes)que apesar de mineira, é cearense de coração e mora em Jeri há muito tempo, e a vice campeã brasileira de SUP Wave, Carol Barcellos (@carolgeol). À convite de Marine, Carol e com o apoio de vários amigos praticantes do SUP do Ceará, a supista e sua mãe, Cláudia Adisaka, conheceram um pouco mais do paraíso cearense.

Aline Adisaka curtindo o dia na Lagoa do Paraíso, em Jeri.

Aline Adisaka curtindo o dia na Lagoa do Paraíso, em Jeri.

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Aline Adisaka nas ondas de Jericoacoara

Apesar de ser acostumada com grandes ondas, a atleta aproveitou os dias de folga e a tranquilidade do mar de Jeri para deslizar nas ondas de águas cristalinas da praia principal de Jeri e no mangue da região. Sem a pressão de competição ou treinamento, o SUP foi muito mais leve e Aline estava bem à vontade.

Aline Adisaka e Cláudia Adisaka no mangue, em Jeri.

Aline Adisaka e Cláudia Adisaka no mangue, em Jeri. Foto: arquivo pessoal Aline Adisaka.

Além de conhecer a praia de Jeri, a visita das paulistas, que moram na praia de Ubatuba (SP), também rendeu um encontro com amigas atletas de SUP cearense e entusiastas do esporte no Cabaré du vento (@cabareduvento), barraca que é o mais novo point dos velejadores de kitesurf na praia do Preá, distante 12 km de Jeri.

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Marine Fernandes, Jaquel Sampaio, Débora Tak, Carol Piechock e Cláudia Adisaka no Cabaré du Vento, na praia do Preá (CE).

Marine Fernandes (biquini branco), Jaquel Sampaio (biquini vermelho), Débora Tak (de boné), Carol Piechock (maiô dourado) , Natália Fonteles (biquini verde). Cláudia Adisaka (óculos lente azul) e Aline Adisaka ( em pé) no Cabaré du Vento, na praia do Preá (CE). Foto: Arquivo pessoal Aline Adisaka.

Na ocasião, Aline também concedeu entrevista exclusiva ao blog Mochila Radical/ O POVO e contou um pouco sobre sua trajetória no esporte, viagens pelo mundo, campeonatos nacionais, preparação e sobre preconceito que sofreu por ser mulher (mais um episódio da série: Todo dia um macho diferente passa vergonha) e por ser praticante de SUP (Sim. Ainda tem mais essa).

Dona de uma simpatia contagiante, a atleta de olhos puxadinhos, que carrega os traços orientais do pai, contou um pouco do início da sua paixão pelo esporte.

Aline Adisaka na Lagoa do Paraíso, em Jeri.

Aline Adisaka na Lagoa do Paraíso, em Jeri. Foto: Arquivo pessoal Aline Adisaka.

Antes do SUP, ela começou no surf de pranchinha por influencia do pai, que também é surfista. “Eu sempre gostei de água. Meus pais me colocaram na natação bem cedo”, lembra. Na adolescência, ela aprendeu a surfar e até fez parte de uma equipe de surfistas da cidade de Ubatuba. À época, ela participou de alguns campeonatos, mas nada muito profissional.

Aos 18 anos, a surfista foi fazer um intercâmbio na Austrália. Lá ainda se dedicou ao surf, participou de alguns campeonatos locais, porém o surf era muito mais hobby.  Após 2 anos, ela regressou para o Brasil e foi quando percebeu que o cenário do surf feminino de pranchinha não estava mais tão bom. ” Não tinha mais nenhum campeonato. O surf feminino estava numa praticamente morrido. Não valia a pena se profissionalizar já que não tinha competição e nem retorno financeiro”, conta.

Ao perceber a realidade do surf feminino brasileiro, surgiu a dúvida: voltar ou não para a Austrália para tentar se profissionalizar como surfista?. Porém, ainda em Ubatuba, um amigo, o triatleta Ruca, apresentou para Aline o Stand Up Paddle, uma modalidade que estava em alta na época e que mudaria de vez a vida da paulista.

Stand Up Paddle: paixão à primeira remada

“Um dos pioneiros do SUP em Ubatuba, o Ruca, me chamou para uma prova de remada. Eram três homens e uma mulher. Ele me convidou para compor a equipe. Eu nunca tinha subido no Stand Up Paddle. Lembro que falei:  ‘como faço? Eu não sei nem como segura o remo’.  Um dia antes da prova, um casal de amigos me deu algumas dicas de como subir e remar na prancha. No dia que eu fiz a prova eu curti pra caramba. Achei super divertido. Tinha uma atmosfera bem legal. Era um esporte bem democrático. Não tinha restrição, crianças, senhores e senhoras podiam praticar. Achei bem e legal porque reuniu muita gente, muitas famílias, praticantes de outros esportes”, relembra.

Depois de alguns meses, o Ruca voltou a chamá-la para um campeonato de Sup Surf em Ibatuba. Ela confessa que achava que não conseguia pegar onda com o SUP. Até então, Aline só tinha remado, mas aceitou o desafio.

“Três dias antes da prova, ele entrou no mar comigo pra me dar uma ajuda e eu consegui de primeira pegar onda de SUP. Corri a parede da onda e eu achei o máximo aquela sensação. Foi algo muito especial. Quando eu fiquei de pé na pranchinha pela primeira vez já tinha sinto a melhor sensação do mundo, mas quando eu consegui pegar a minha primeira onda de SUP foi uma sensação diferente e foi melhor do que eu tinha sentido antes. Tive uma conexão imediata com o SUP.  Eu tive medo, achei que não ia conseguir, mas era tão desafiador pra mim que eu queria tentar cada vez mais”, conta. No dia do campeonato Aline conquistou o segundo lugar.

“Depois desse campeonato, eu fiquei muito motivada e queria melhorar ainda mais. Foi quando deixei a pranchinha de lado e entrei com tudo no SUP”, vibra. Após o campeonato em Ubatuba, as coisas foram acontecendo para a nova supista. Aline começou a se dedicar mais e percebeu que o mercado também estava se abrindo e valia a pena se profissionalizar. Aline também chamou atenção do canal OFF e foi convidada para participar de programas que mostravam suas aventuras no esporte e viagens pelo mundo.

Nem tudo são flores…

A supista conta que durante uma viagem para a Costa Rica ao entrar no mar na companhia de mais 4 meninas, que estavam à trabalho para a temporada “Costa Rica por elas” do canal OFF,  os surfistas que já estavam no mar ficaram incomodados com a presença delas e um deles gritou: “o stand up paddle tem que sair da água”.

Mesmo com toda hostilidade, elas não saíram do mar e continuaram a surfar.  “Foi bizarro. Quando entrei na água um deles começou a gritar: ‘não pode surfar de SUP. Tem que sair da água!’. Mas, com educação, respeito e gentileza, consegui contornar o quadro todo”, desabafa.

Títulos 

Já no primeiro ano que Aline passou a se dedicar de forma profissional, ela concorreu ao título mundial, na França. A partir dessa competição, Aline começou sua carreira e ganhou destaque como a quarta no ranking mundial.

Foi a única brasileira a se destacar e ganhar as seletivas nas 4 categorias (Sprint Race, Tecno Race, Long Distance e SUP Surf) do International Surf Association (ISA) Games, na Dinamarca.

Mesmo após passar 73 dias na expedição da travessia da Rússia, que saiu da Rússia para o Alaska, Aline, que estava fora de forma e não estava longe dos treinos, conseguiu se classificar em 3 finais (Sprint Race, Tecno Race e SUP Surf).  A equipe brasileira ganhou um bom destaque na competição. Dentre 43 países, o Brasil ficou em sexto lugar.

Competiu também Pan Americano 2017 no Peru, nas modalidades de SUP Surf e o Sprint Race, que por sinal vão entrar nas Olimpíadas. Ela foi a única atleta brasileira que competiu nas duas modalidades e conseguiu bronze nas duas modalidades.

Apesar dos excelentes resultados, Aline segue no esporte sem patrocínio. Todas os gastos com competições são bancados por ela ou são pagos com a ajuda de amigos e fãs que contribuem nas vaquinhas digitais.

Para Aline, seguir no SUP sem patrocínio é desafiador e até já pensou em desistir por não ter condições de ir para as viagens de competição. “O atleta tem que se preocupar com tudo e o fato de não ter um patrocinador, me deixava muito aflita e estressada e isso acaba refletindo nos treinos”, desabafa. Apesar de tudo, ela resiste: ” Eu não vou desanimar. Eu tento reverter todas as dificuldades e tento transformá-las em coisas positivas. Pra mim, quanto maior o desafio, maior a vitória”, afirma.

Recado para a mulherada!

“Mulheres venham pra água! Seja de pranchinha, seja de SUP. É bom para saúde, para mente, para o espírito. A conexão com o mar e natureza faz bem para nossa alma. É só resultado positivo. Não tenham medo. Eu também achei que não ia conseguir, mas eu superei as adversidades e fui superando os desafios. Os medos são coisas colocadas na nossa cabeça. Enfrentem. Porém, primeiro procurem um profissional qualificado. Eles sabem instruir e vão ter tudo adequado para você aprender. Sozinha, talvez, você fique frustrada. E a dica que eu deixo pra quem for em Jeri, que é um pico ótimo para quem quer aprender, é ir na Jericoacoara 30 knots. Lá tem aula e o lugar é excelente para aprender”, reforça Aline.

Aline também ministra clínicas de SUP e surf e avisa que é só entrar em contato que ela está às ordens. Ter uma professora campeã brasileira de SUP não é nada mal, hein!

Agradecimentos:

Jaquel Sampaio – Casa da Amelinha

Marine Fernandes – Jericoacoara 30 Knots @jericoacoara30knots

José e Hanna Ciqueira – Cabaré du vento @cabareduvento

About the Author

Natália Fonteles

Jornalista, apaixonada por boas histórias, viagens e esportes radicais. Siga me nas redes sociais: @mochilaradical e @oceanicos_ce

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