A edição deste sábado [5/12/2009] do O POVO traz matéria bem detalhada sobre a suposta fraude denunciada por estudantes no vestibular da Uece [Universidade Estadual do Ceará]. Segundo os estudantes, algumas questões traziam marcas nas respostas que possibilitariam reconhecer as questões corretas. A suspeita dos estudantes é que alguns vestibulandos poderiam reconhecer tais sinais, beneficiando-se na prova.

Mesmo tendo recebido vários pedidos formais para anular a primeira fase do vestibular, a prova de Conhecimentos Gerais, a Comissão Executiva do Vestibular [CEV] resolveu validar o exame, anulando apenas duas questões. A Comissão reconheceu os problemas apontados pelos estudantes, mas chamou-os de  “atecnias” ou diferenças de “formatação”.

O mais grave é que a Comissão Executiva do Vestibular, em nota paga publicada nos jornais reconheceu que os erros de “formatação” não estavam apenas na duas perguntas anuladas – cujas “atecnias” indicavam a resposta correta – mas em todos os nove cadernos das provas.

Vejam o que a própria Comissão escreve em sua “Nota oficial”:

«[…] 4.  Na formatação das opções das questões dos 9 (nove) cadernos ocorreram atecnias na sua quase totalidade, de forma aleatória, com distribuição irregular e sem regra lógica, as quais não foram detectadas pela revisão.

5.  No entanto, a questão 56 (Gabarito 2 – Espanhol) e a questão 59 (Gabarito 3 – Espanhol) apresentaram destaque em negrito em opção verdadeira e em razão deste fato estão sendo anuladas.

6.  Quanto às questões que apresentam as demais atecnias, cuja distribuição, repetimos, foi irregular e sem regra lógica como comprovaram os levantamentos feitos por esta Comissão, não induzindo, portanto, a erros ou acertos, estão sendo mantidas nas suas plenitudes [sic], não se dando guarida, portanto, aos recursos administrativos referente [sic] à anulação do Vestibular.
[…]»

Chega a ser espantoso:

A Uece reconhece que a “a quase totalidade” das questões de seu vestibular contém “atecnias” ou erros de “formatação” e mesmo assim considera isso normal. Diz que os equívocos de “formatação” são “aleatórios” e que não indicariam as respostas corretas.

Não se está acusando a Uece de ter praticado a irregularidade, pois é uma instituição sabidamente séria. Mas, por favor, quem garante que os erros são “aleatórios”? Se se pegar um texto ou qualquer outro dado codificado, eles também parecerão “aleatórios” para quem não lhes conhece a chave.

Somente essa suspeita bastaria para a universidade ter anulado as provas do vestibular, para o qual milhares de jovens se preparam o ano inteiro.

E, ainda, mesmo que  as “atecnicas” sejam “aleatórias”, são erros graves, que perturbaram os estudantes. Isso,  por si só, justificaria a anulação da prova.

Agora mesmo, tivemos o exemplo do exame do Enem, anulado por um vazamento de pequenas proporções. Digo pequenas proporções, pois os trapalhões que surrupiaram a prova não tiveram nem mesmo tempo de tê-la oferecido a possíveis compradores. Se é que chegaram a tentar vender para algum estudante, pois primeiro procuraram o jornal O Estado de S. Paulo, tentando vender-lhe o vazamento com um “furo” de reportagem. Deram-se mal. De qualquer modo, foi algo grave.

Mesmo assim a prova, para a qual estavam inscritos perto de um milhão de estudantes foi anulada. Por que a Uece não pode fazer o mesmo com os seus 29 mil inscritos?

A universidade validou confirmou a segunda fase do vestibular para os dias 20 e 21 de dezembro. Mesmo com  respeito e da confiança que a Uece amealhou durante a sua existência, este seu vestibular está sob suspeita.

Tagged in:

, ,