Meu artigo publicado na edição de hoje [4/10/2010] no O POVO.
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Orgulho e preconceito
Plínio Bortolotti
Alguém pôs o fogo e o rastilho incendiou a internet: postagens preconceituosas, racistas, xenófobas e criminosas contra os nordestinos espalharam-se pela rede. O motivo foi a eleição de Dilma Rousseff (PT), supostamente propiciada pelos nordestinos, que “não sabem votar”. Até incentivo ao assassínio dos nordestinos se viu. Até onde se sabe foi uma jovem moradora de São Paulo a iniciar a abominação.
Mas, por incrível que pareça – tirante os xingamentos – ouvi argumentos parecidos por aqui. Durante a minha participação na cobertura especial que a TV O POVO fez no domingo da eleição, precisei enfrentar comentadores que avistavam uma “ruptura” no país devido a grande votação que a presidente eleita obteve no Nordeste.
Um dos modos que usei para fazer a contraposição foi o seguinte: quando a classe média ou os empresários votam de acordo com os seus interesses (redução de impostos, por exemplo) a suposição imediata é que defendem os interesses do país. Se os pobres ou remediados votam de acordo com os seus interesses (programas de complementação de renda, Prouni, ascensão para a classe média, etc.), eles estão sendo “comprados”.
Ora, não é de interesse do país que as pessoas saiam da pobreza, que estudem, que melhorem de vida? Fazer um país mais justo não é – ou deveria ser – do interesse de todos?
Além do mais, os nordestinos teriam de subordinar o seu voto aos interesses políticos do Sul/Sudeste? O Congresso Nacional existe para equilibrar os possíveis desníveis que possam existir entre as regiões, por isso se elege os deputados proporcionalmente e o Senado de modo majoritário (três representantes para cada estado e para o Distrito Federal).
Além do mais, é equivocado um movimento contrário que se formou para combater o preconceito, usando os mesmo argumentos em sentido contrário. Não se combate os estereótipos negativos usando-se as mesmas armas da ignorância. [Veja mais sobre o assunto no post abaixo.]
É uma pena que esse tipo de pensamento ultrapassado continue a existir, logo em um povo tão miscigenado e rico em diversidade quanto o nosso. O que deveria ser estimulado e cultivado se transforma em uma briguinha sem sentido, levada por ideias preconceituosas que nunca trouxeram nada para a humanidade além de mortes.
Ao invés de se zelar por uma maior cobrança e fiscalização do poder público local, os estados culpam aquele que é diferente – uma prática antiga na história da humanidade, que nunca teve consequências muito positivas. Mas isso é comum em um país como nosso, onde o dedo para acusar e botar falhas sempre é muito mais rápido do que a cabeça para formular soluções.