Meu artigo publicado na edição de hoje (17/11/2011) do O POVO.

Themístocles
Plínio Bortolotti

Há um hábito no Brasil de falar somente o bem daqueles que morrem. Não vou fazer isso com Themístocles de Castro e Silva, pois não faria justiça à sua personalidade polêmica, por vezes agressiva, quando se tratava de defender as suas ideias.

Themístocles era retrógrado politicamente, amava a ditadura militar (que ele julgava “democrática”), e achava que os problemas do país poderiam ser resolvidos com uma boa dose de autoritarismo.

Esse, o lado público de Themístocles.

Pessoalmente, era educado, bem-humorado e generoso. Tive dois momentos de convivência com ele. Primeiro, em meados da década de 1990, quando fiz parte da equipe do programa “Debates do Povo”, da qual também participavam Hélio Leitão e Tarcísio Leitão. À época, eu era jovem, frente a Themístocles, e ele demorou um pouco para aceitar-me com debatedor à altura de sua experiência.

Quando ele elogiava demais a ditadura, Tarcísio exclamava: “Hôoome, vá gostar de farda assim lá longe”. Themístocles nunca se queixou. Mantinha a cordialidade com o velho comunista.

Depois, como editor de Opinião, ficamos mais próximos. Ele tinha o hábito de revisar o seu artigo, depois de diagramado, cuidando para que saísse sem nenhuma falha. O seu rigor com a língua é raro nos dias de hoje. Chegava à Redação sempre com um pacote de tapioca na mão – e anunciava: “É a direita alimentando a esquerda”, provocando risos na bancada.

Quando ombudsman, liguei para ele quanto pensei em escrever sobre alguns articulistas, perguntando se queria registrar algo. “Plinin (como me chamava), não tenho nada para dizer, mas escreva que todo mundo me lê: a direita porque gosta e a esquerda para falar mal.”

Na última conversa que tivemos, desfizemos um mal entendido, que o levara a suspender a sua colaboração com o jornal. Ele voltou a escrever. O artigo foi publicado na segunda-feira, um dia antes de sua morte. Até o fim, um jornalista na ativa.

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