Reprodução de artigo publicado na edição de 10/12/2015 do O POVO.

hélio rôlaInsulto à democracia

Plínio Bortolotti

Estou ao lado dos que veem o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff como um ataque à democracia, ainda que seus demandantes queiram lhe passar a pátina da legalidade.

Opinar contra o impeachment é muito diferente de apoiar o governo. Atenho-me à defesa da institucionalidade, que vem sendo insultada pelos perdedores nas urnas. Desde a redemocratização, nenhum presidente pôde governar sem ouvir o coro pela sua derrubada: petistas já entoaram o “fora FHC”; agora é a vez de o PSDB desafinar no “fora Dilma”.

Empresários que tanto falam em “segurança jurídica”, afirmando que sem isso é impossível fazer negócios, deveriam ter a coragem de exigir, em bloco, “segurança institucional”, que é tão ou mais necessária do que a primeira, pois valor essencial das sociedades democráticas.

É claro que o governo Dilma está em uma grande enrascada econômica, que continuará caso ela seja mantida no governo e acompanhará aquele que vier a substituí-la, em caso de afastamento. Aliás, a situação pode piorar, pois o substituto já vai assumir sob o coro “fora”, por motivo qualquer.

E é essa ânsia de deposição, devido a inconformismo pela derrota eleitoral, por vingança ou qualquer outra motivação mesquinha, que precisa ser contida, para o benefício de todos os partidos – pois o PT não ficará para sempre no poder.

Isso quer dizer que se vai tolerar qualquer desmando de um presidente? É claro que não. Mas apelar para o impedimento não pode ser mero biombo para esconder a sede de poder a qualquer custo ou para a defesa de interesses escusos, como se está vendo.

O PSDB, que poderia agigantar-se como partido sério em momento como esse, preferiu voltar para o colo do temerário Eduardo Cunha – e vai pagar um preço enorme por isso.

Deveriam os tucanos aprender com o oposicionista Henrique Capriles, que em situação muito pior, na Venezuela, esperou para derrotar, nas urnas, o seu oponente.

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