Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 13/12/2015 do O POVO.
A guerra dos meninos e os políticos velhos
Plínio Bortolotti
O caro leitor tem sentido ultimamente a sensação aflitiva de que quase todos os principais políticos brasileiros envelheceram? De minha parte digo a vocês: todos velhos. Oposição e situação. E não se trata de idade cronológica, pois há velhos jovens e jovens velhos. É velho, por exemplo, o jovem secretário de Governo da prefeitura do Rio, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), reincidente espancador da mulher, e candidato a prefeito da cidade.
A vocês não parece que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em vez de manter-se jovem pela transformação que ele ajudou a operar no país, preferiu usar suas ideias para defender o indefensável, definhando à frente de todos em um triste espetáculo? Lula teria permanecido jovem se houvesse se retirado da vida pública, permanecendo acima da politicalha que hoje ameaça o Brasil. A mesmíssima coisa se pode dizer de Fernando Henrique Cardoso.
E a presidente Dilma Rousseff, que em vez de aprofundar as políticas sociais para tornar o Brasil um país menos desigual, preferiu enveredar pelo caminho inverso, não lhes parece que ela envelheceu décadas em apenas um ano?
E o que dizer do jovem Aécio Neves (PSDB), que consegue ser muito mais velho que o seu avô, Tancredo? E não vou nem falar da dupla Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados) e Renan Calheiros (presidente do Senado), pois aí seria covardia, pois nasceram velhos.
Quanto a todos aqueles que pretendem dar um golpe na democracia – mesmo os adeptos do putsch soft, via um descabido impeachment – esses são velhos, carcomidos e obtusos.
A guerra dos meninos
Esses pensamentos ocorreram-me quando li no Twitter alguma coisa como: “Esses estudantes precisam chegar logo ao poder”, referindo-se aos alunos que ocupam escolas em São Paulo contra a “reorganização” que o governador Geraldo Alckmin quer implementar no sistema educacional paulista.
Basicamente, a proposta do governador é separar as escolas por ciclo: alunos de seis a 10 anos; de 11 a 14 anos e de 15 a 17 anos, implicando o fechamento de algumas unidades, o que desagradou os estudantes.
Li vários especialistas afirmando que a medida, de fato, tende melhorar o rendimento escolar. Mas como o governador fez? Do jeito velho. De cima para baixo, impositivamente, sem conversar com ninguém, pois a autoridade velha sabe o que é bom para seus governados, mesmo que eles sejam jovens. E ponto final. A resposta não tardou, com os estudantes ocupando organizadamente as escolas.
Para piorar a situação, vazou o áudio de uma reunião em que os velhos, quando se viram questionados, apelaram para a truculência. Em reunião, o chefe de gabinete da Secretaria da Educação de São Paulo, Fernando Padula, chamou os dirigentes de ensino do Estado para organizar “ações de guerra” contra os estudantes e para adotar “táticas de guerrilha” com o objetivo de “desmoralizar e desqualificar o movimento”.
Os meninos perceberam que precisavam expandir o movimento – até então dentro das escolas ocupadas – e foram para as ruas. A Polícia Militar usou cassetetes, bombas de gás, de efeito moral, e fez prisões – o cardápio de sempre.
Pegou muito mal para o governador Alckmin e seu velho método. Até o fechamento desta coluna, a última notícia é que a “reorganização” do sistema escolar fora suspensa.
NOTAS
Esperança
Quanto ao tuiteiro que anseia ser governado por esses jovens, eu não seria tão esperançoso, pois sou um velho escaldado. O poder age como uma espécie de “fonte do envelhecimento”: os que chegam lá tornam-se idosos precocemente.
Lição
De qualquer modo, os jovens estudantes paulistas deram uma lição aos seus irmãos mais velhos, da universidade, que costumam invadir reitorias pichando e barbarizando. A ocupação deles foi organizada e deixaram as escolas mais bem cuidadas do que estavam antes da ocupação.
Matusaléns
Na minha relação faltaram muitos matusaléns da política brasileira. O leitor fica convidado a fazer sua lista, incluindo políticos cearenses.
Análise perfeita, caro Plínio, só lamento que a palavra “velho” seja utilizada de forma tão negativa. Afinal, muitos de nós somos ou seremos velhos, fato que não nos (des)qualifica ou nos equipara aos nossos sem escrúpulos, ultrapassados, aéticos e gananciosos representantes. Sim, nossos representantes, porque os colocamos onde estão. Estaria, então, toda a sociedade brasileira envelhecida? Isso, sim, me aflige e muito!
Olá,
Agradeço sua leitura e comentário. Quando ao termo “velho” não o usei pejorativamente em relação à idade cronológica das pessoas, mas no sentido de algo que ficou no passado.
Abraço,
Plínio
Foi apenas uma observação sem grande importância. Muitos utilizam a palavra “velho” com essa conotação, eu inclusive. Foi isso que lamentei. O relevante, para mim, é a qualidade dos seus textos. Eles possuem identidade. Você consegue expressar opinião sem cair em armadilhas ideológicas. Parabéns! Grata pela resposta. Abraços