Reprodução do artigo publicado na edição de 25/2/2016 do O POVO.

Hélio RôlaAmantes e amigas; o público e o privado
Plínio Bortolotti

Já passou da hora de alguém lançar novamente o grito do Barão de Itararé*: “Ou instaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”. O PT, que surgiu no Brasil debatendo-se pela honestidade na política, hoje padece dos mesmos males que acusava nos outros partidos.

O PSDB, antes vidraça, assumiu o outro lado – depois de derrotado nas eleições presidenciais – e passou a atirar pedras no telhado do vizinho com os mesmos argumentos de que outrora era vítima. Ao mesmo tempo, o PT sequestrou os argumentos do PSDB para se defender dos ataques que lhes são desferidos.

(Dos outros partidos, nem é preciso comentar, o PMDB é o que sempre foi; os nanicos, que brotam como flores do mal – exceções ressalvadas – existem para isso mesmo: um balcão de malfeitos. Fiquemos, então, nos dois principais, que polarizam o debate no Brasil.)

Do mesmo modo que Lula viu-se enrolado com a secretária Rose Noronha, sua “amiga”, que chefiava um escritório de Presidência da República em São Paulo; Fernando Henrique Cardoso vê-se agora ainda mais atrapalhado com a jornalista Míriam Dutra, com a qual mantinha um “relacionamento extraconjugal”, que resultou em um filho dele, segundo a mãe, mas que não é dele, como afirma FHC.

Alguns colunistas afirmam que o caso da “ex-amante” de FHC é uma “questão privada”. Não é, como também não era “pessoal” a situação em que Lula se viu envolvido com a “amiga”.

Seria se, em ambos os casos, inexistisse suspeita de irregularidades nas consequências produzidas pelas “amizades”. Se cometeram fraude, usaram recursos governamentais ou utilizaram-se indevidamente da influência do cargo para resolver problemas particulares, o negócio passa a ter interesse público.

O que parece é que uma estranha cegueira acomete muitos políticos brasileiros: assim que assumem um cargo no governo, deixam de enxergar a clara linha demarcatória que separa o público do privado e acabam misturando as coisas, sempre em proveito próprio, é claro.

* O leitor Antonio Vasques me lembra que a frase não é do Barão de Itararé, e sim de de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto.

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