Reprodução da coluna “Menu Político”, publicado no caderno “People”, edição de 24/4/2016 do O POVO.
O PT paga o preço de seus erros
Plínio Bortolotti
É fora de dúvida a grande responsabilidade do Partido dos Trabalhadores e do governo pelo fato de as coisas terem chegado ao ponto em que chegaram: a aprovação do processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados.
Para ficar nos equívocos mais recentes, a anomalia começou no início do governo, quando Dilma Rousseff deu um chapéu nas propostas com as quais foi eleita e assumiu o programa do adversário. O PSDB, por sua vez, para dificultar a vida da presidente, deu o drible da vaca em seu próprio projeto e rejeitou o filho, de forma a dificultar a vida do governo na Câmara.
Por sua vez, a voracidade de poder do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no comando de um exército de zumbis submissos, minou o terreno com “pautas-bomba”, explodindo com a possibilidade de se formar uma maioria governamental confiável.
Ajudou nisso a proverbial falta de vontade da presidente de “fazer política”. (Diga-se: chega a ser compreensível depois de ver, no julgamento do impeachment, o tipo de gente que ela teria de lidar.) Mas, como diz o ditado, quem tem medo de calor, que não entre na cozinha. Além de cargos, políticos gostam de carinho, tapinha nas costas e de receber uma ligação de vez em quando, para falar do tempo e perguntar como vão a mulher, os filhos e a “família”, tão ressaltada nos votos dos parlamentares que selaram(?) a sorte de Dilma.
Acompanhando tudo isso, havia a sombra da Lava Jato que, mesmo não atingindo diretamente a presidente, deixou óbvio que havia petistas graduados envolvidos nos malfeitos. E, desta vez, foi impossível insinuar o discurso, usado no “mensalão”, afirmando que o desvio não servira para enriquecimento pessoal, mas para uso mais nobre.
É ainda preciso recordar que a eleição de Dilma Rousseff teve um número bastante expressivo de “votos negativos”, isto é, eleitores que tinham sérias restrições ao PT, porém, mais do que isso, rejeitavam o PSDB. Entre esses setores, os que foram beneficiados pelos programas sociais do governo – mas estavam descontentes com a corrupção e, além disso, estavam olhando para o que ainda queriam – e não para o que já haviam conquistado.
O que esses setores, incluindo os movimentos organizados, esperavam que, no segundo mandato, Dilma fizesse o que não fizera no primeiro: um giro à esquerda, levando a “elite” a pagar a conta da crise. Eles ficaram quietos quando o governo Dilma começou a afundar, movimento que chegou a contaminar a base do PT. Era como se dissessem “essa política não me representa, portanto, não tenho a obrigação de defendê-la”.
A elite empresarial e rentista, por sua vez, que nunca teve simpatia pelo PT – mesmo quando ganhava muito dinheiro em seus governos -, percebeu o animal ferido e aproveitou para dar estocadas mais fortes.
Os setores populares – incluindo sindicatos – só vieram em socorro de Dilma ao observarem que a derrocada de seu governo seria a derrota deles também, com a consequente ascensão do inimigo. Começaram a se mobilizar, no início com ressalvas ao governo, depois, quando a coisa apertou, mais desabridamente.
Mas a cavalaria chegou tarde, já estava criado o caldo venenoso que rompeu a barragem da frágil base de apoio que restava à presidente, e espalhou a lama tóxica no Congresso Nacional.
NOTAS
Pedaladas
Somente os muito ingênuos acreditam que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi aprovado na Câmara devido às “pedaladas fiscais”. Aliás, creio que nem mesmo os ingênuos acreditam disso depois de terem visto a fauna humana que expeliu seus votos na sessão de domingo passado.
Vergonha alheia
Suspeito que até mesmo os piores inimigos do PT e do governo tenham sentido a chamada “vergonha alheia” ao verem como seus aliados votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Fiesp/Fiec
Não entendo por que a entidade representativa do empresariado cearense, a Fiec, acompanha alegremente as decisões de sua homóloga paulista, a Fiesp. Será que os empresários cearenses acreditam, de fato, que os interesses da avenida Barão de Studart são os mesmos da avenida Paulista?
Prezado Plínio,
tenho ouvido muito, inclusive de vossa pessoa, a questão que o Eduardo Cunha se tornaria (na verdade se tornará, pois é inevitável o afastamento de Dilma) o vice de Temer.
A bem da verdade cumpre observar que os presidentes da Câmara e do Senado assumiriam a presidência apenas interinamente, nunca efetivamente, mesmo com o afastamento definitivo de Temer.
Vide a Constituição:
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.
Portanto esse argumento difundido é mais uma falácia argumentativa infundada para manipular a opinião pública.
Caro João Aurélio,
Caso Temer assuma, Cunha se tornará o primeiro na linha de sucessão.
Plínio
Há um equivoco do colunista ao imputar o fracasso do 2º mandato da Presidente Dilma ao possível fato de adoção do “programa do seu adversário em detrimento do seu (dela)”.
Em seu primeiro mandato, lastreado pela metade do segundo mandato de Lula, a presidente Dilma Rousseff transformou o Brasil numa espécie de laboratório para todos os tipos de magias heterodoxas na área econômica (promulgadas e avalizadas por ‘intelectuais’ de esquerda) . Mesmo sobre o insistente aviso dos analistas independentes, que cansaram de avisar, os experimentos de Dilma acabaram provocando o desordenamento do processo produtivo, a alta da inflação e a estagnação da economia.
Assim como Luís XV – L’etat c’est moi (O Estado sou eu) – Dilma foi, desde o primeiro dia de seu governo, o ministro da Fazenda de fato – e não Guido Mantega, o titular da Pasta. A presidente/min. da fazenda manobrou a economia a seu bem entendimento e conveniência. Logo a grande responsável pelo fracasso retumbante de seu governo na economia é a presidente. Poder-se-ia até chamar Tombini e Mantega de omissos e até cúmplices.
A dificuldade de Dilma e o PT reconhecerem publicamente seu fracasso na gestão da economia – pois a culpa é e deve ser sempre de um outro – possibilita que o governo chegue ao final de forma melancólica.
O PT, seus “seguidores” e a mandatária do país, Dilma, jamais admitirá, que na gestão do partido dos trabalhadores e dela a política monetária sofreu influências políticas inimagináveis, contribuindo de forma decisiva para garantir a incredibilidade do país junto aos investidores locais e estrangeiros. A “gerente” por mais de uma vez, defendeu a ideia pregada pelos “nacional-socialista-desenvolvimentistas”,OU SEJA, de que um pouquinho de inflação não faz mal a ninguém.
Depois de passar a campanha eleitoral de 2014 jurando e “vendendo”de pés juntos que as contas estavam em ordem e que o governo faria a economia prometida para pagar os juros de sua dívida pública em 2014, a “gerentona” teve de reconhecer (reconheceu mesmos?) que a situação era dramática, fazendo o côncavo do convexo e enviou um projeto ao Congresso flexibilizando a meta fiscal que ela mesma havia traçado no ano anterior (alcunhada de pedalada fiscal pelo TCU).
A adoção de uma “nova matriz econômica” centrada: 1) no real fraco em relação ao dólar; 2) em incentivos fiscais para alguns setores “eleitos” da indústria; e, ) numa taxa de juro baixa, a “nova matriz” objetivou estimular o crescimento econômico, na marra. Para isso uso de artifícios como a contenção de preços administrados, cito a gasolina, ocasionado no ano de 2015 que a inflação deu um salto, e os juros tiveram de subir para tentar manter os preços sob controle, ops. A única e real saída é que, por causa de seus resultados pífios, a “nova matriz econômica” foi abandonada no segundo mandato de Dilma, em nome de práticas tidas como “ortodoxas”, como a austeridade fiscal e uma política monetária mais dura, para recolocar o Brasil na trilha do desenvolvimento sustentável.
Um dia Dilma , em pré-período eleitoral, acordou e decidiu que era preciso dar uma marretada nos juros estratosféricos do país, bem ao estilo “eu prendo, eu bato, eu arrebento” que caracterizou seu governo desde o primeiro minuto. Ou seja, forçou a porta do cofre da nação e foi “aclamada pelos zumbis”.
Durante seu governo, de tendência nacional-socialista-desenvolvimentista, Dilma ressuscitou várias práticas que se popularizaram durante o governo militar, pois idolata Gaisel, provavelmente a principal delas – e a mais nociva para o país – foi a volta da política do “pires na mão”, pela qual os empresários voltaram a peregrinar pelos gabinetes de Brasília, em busca dos favores oficiais, em troca de promessas de investimento raras vezes cumpridas.
Ávidos pelo “bem estar social” os partidos da situação encheram de penduricalhos as obrigações do Estado vislumbrando o pré-sal. A Petrobrás, empresa de economia mista, foi forçada a participar de todas as licitações e explorações mesmo naquelas que dão prejuízos, claro o dinheiro sempre será do contribuinte.
Há uma frase emblemática que diz: “todo socialismo acaba quando acaba o dinheiro”.
Assim, caro colunista, creio que nos últimos seis anos o PT girou a esquerda e buscou suas raízes, pois achou que “as burras estavam cheias”. Com soberba achou que poderia ensinar o velho mundo como enfrentar uma crise.
Na realidade o PT apenas colheu, pela primeira vez, aquilo que plantou. Já que me parece que plantar e cultivar não é bem a “praia” da esquerda.
Grato,
Diego Luz
Perfeito João Aurélio. PERFEITO.
Sub escrevo suas palavras.
Caros Diego e João Aurélio,
sugiro que deem uma pesquisada melhor sobre o assunto. (A propósito, onde está o pessoal que dizia “primeiro Dilma depois Cunha”? Nas ruas? Não, em casa (e nem ao menos batendo panela).
Abraço,
Plínio