Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 19/5/2016 do O POVO.

Hélio RôlaCunha nunca sai a passeio
Plínio Bortolotti

Em artigo publicado na edição de 26/4/2016, escrevi que Eduardo Cunha seria preservado no desenrolar dos acontecimentos, pois seria ele “o punho de ferro de Michel Temer para ministrar todos os remédios amargos que o ‘mercado’ quer impor ao País, incluindo a redução de benefícios sociais e afrouxamento nas leis trabalhistas”.

Disse ainda que havia simbiose entre eles e que Temer não existiria sem Cunha e que este teria a ascendência da dupla.

Pois bem, depois disso, todos sabem o que aconteceu: Cunha foi afastado da presidência da Câmara dos Deputados e do próprio mandato, em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), aparentemente fazendo naufragar a análise que eu fizera. Reconheci o erro em uma das intervenções no programa Revista O POVO/CBN e tive de ouvir comentários irônicos de vários ouvintes, o que sempre me dá alegria, pois revela audiência.

Mas eis que as notícias mais recentes retornam ao ponto inicial: Cunha continua com grande influência no governo Temer.

Seu feito mais recente foi impor como líder do governo na Câmara o deputado André Moura, um dos combatentes mais ativos da tropa de choque de Cunha. Além desse, digamos, mérito, Moura ostenta uma folha corrida na qual consta inquérito no STF, acusado de tentativa de homicídio, sendo também investigado na operação Lava Jato.

Pelo menos outros dois ocupantes de postos de relevância no governo têm proximidade com Cunha: o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha. Ambos já atuaram como advogados de Cunha.

Enquanto isso, continua a pajelança na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados para livrar Cunha da cassação do mandato. O processo contra ele já corre há sete meses, período mais longo do que qualquer outro.

Hoje Cunha estará na Comissão de Ética para fazer a própria defesa, que até agora estava a cargo de advogados. E, como se sabe, Cunha nunca sai a passeio.

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