Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 22/5/2016 do O POVO.

CarlusO PT errou, a imprensa também
Plínio Bortolotti

A crise política em curso desvelou não apenas o esgotamento de um sistema político e a crise violenta de um partido, que surgiu prometendo romper com esse estado de coisas, mas deixando também a nu um bando de políticos que, entra governo, sai governo, só pensa neles mesmos, nos seus apaniguados e em seus interesses particulares.

Se, para manter tais privilégios, é necessária uma quartelada, bate-se às portas dos quartéis para bulir com os granadeiros; se o tempo da manu militari passou, tortura-se a lógica até fabricar um argumento “constitucional” para apear do poder o governante (no caso “a”) legitimamente eleito.

Por trás, os de sempre: as elites rentistas e industriais, que gostam do “choque de capitalismo” nos outros, mas continuam encostadas no Estado. E, na falta de militares, que, ajuizados, recolheram-se à sua missão constitucional, apela-se para uma trupe de deputados, possuidores de verdadeira ficha corrida, tendo à frente deles o “delinquente” (nas palavras do procurador-geral da República) Eduardo Cunha. Qual o problema? O instrumento e os meios não importam, mas o fim, que é a “salvação nacional” (deles), com “ordem e progresso”, e sem falar em crise, pois a palavra tornou-se proibida.

A tropa de choque dessa turma é um segmento da classe média, que fica com as sobras do banquete, batendo panela (eventualmente incensando Bolsonaro), mas sonha com o andar de cima, enquanto vai às compras em Miami.

Óbvio que PT precisa fazer profunda análise dos terríveis erros cometidos (corrupção grossa incluída), pela profunda frustração causada em seus eleitores e na dívida que sempre lhe pesará sobre os ombros por ter traído propostas centrais de seu próprio programa.

O reconhecimento dos erros talvez permita seguir em frente, juntando os cacos, pois, apesar de tudo, é um dos poucos agrupamentos no Brasil que se constitui como verdadeiro partido. Ademais, é preciso reconhecer que o PT mudou o País em vários aspectos, fazendo ascender os de baixo, com seus programas sociais, incluindo a possibilidade de jovens pobres e negros terem acesso à universidade.

Se a política, políticos e partidos foram reprovados no teste, a mesma crítica cabe à imprensa, cuja atuação deve ser questionada neste dramático episódio que ainda se desenrola.

Sem levar em conta os que se dizem jornalistas, porém são militantes (dos dois lados) – alguns fazendo um papel verdadeiramente ridículo, que envergonha o jornalismo -, é fato que a cobertura foi bastante desequilibrada em favor do impeachment da presidente. Por essa tese, uniram-se os principais jornais, redes de TV e de rádio, e a esmagadora maioria de seus comentaristas políticos, que, em vez de analistas, viraram militantes de uma causa. Com isso, a imprensa ofereceu uma visão parcial e distorcida, que não foi capaz nem de enxergar com espírito crítico a votação circense na Câmara de Deputados (17/4/2016), que instaurou o processo contra a presidente da República.

A imprensa internacional deu uma visão bem mais abrangente e diversificada dos acontecimentos, incluindo suas representações no Brasil, como é o caso dos portais do El País (Espanha), BBC (Reino Unido) e Deutsche Welle (Alemanha). Essa amplitude de análise, cobertura mais contextualizada e equilibrada, foi sonegada pela imprensa brasileira de seus leitores, ouvintes e telespectadores.

NOTAS

BBC
A BBC Brasil publicou O legado dos 13 anos do PT no poder em seis indicadores internacionais. Um balanço “à prova de maniqueísmo”, segundo um amigo jornalista.

El País
O portal espanhol analisou a Ascensão e queda do petismo: da “década da inclusão” ao impeachment.

Deutsche Welle
O portal em português da alemã DW fez apanhado do que se falou sobre o Brasil na imprensa europeia e chegou à conclusão que a nação brasileira “queria ser moderna”, mas “recuou no tempo”, ficando ao lado de países cujos presidentes eleitos foram afastados de “forma questionável”.

New York Times
Editorial do jornal americano (12/5/2016) defende eleições para superar a crise e afirma que Dilma pagou um preço “desproporcionalmente alto” pelas suas ações.

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