Reprodução da coluna “Política”*, edição de 11/11/2016 do O POVO.

Eleições de 2018: grupos políticos
demarcam território

Estourou outra briga entre os tuxauas da política cearense. A pendenga começou quando Ciro Gomes classificou Eunício Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB) de “picaretas-mor” de uma suposta “indústria de picaretas”. Os partidos ofendidos reagiram imediatamente, com notas oficiais: o PMDB repudiou a agressão, enaltecendo Eunício como “empreendedor de sucesso, cidadão exemplar”. O PSDB fez uma convocação a “todo o povo cearense” que, segundo o partido, poderia testemunhar a favor de seu líder, pois “conhece e reconhece Tasso como um dos políticos mais honrados deste país”.

OS ESCUDEIROS
Escudeiros de ambos os lados também entraram na peleja. Pelo PMDB, Audic Mota, líder do partido na Assembleia Legislativa, lembrou a queda de Ciro: “Já foi candidato (a presidente) e foi derrotado”. Maliciosamente, atribuiu o ataque ao desejo de Ciro ficar em evidência, pois estaria de olho novamente na Presidência da República.

O deputado Carlos Matos (PSDB) saiu em defesa de Tasso, mas parece que não entendeu uma parte do discurso de Ciro e perguntou: “O que ele quis dizer com isso (picareta)? Gostaria que ele explicasse, para que não perdesse a credibilidade dos poucos que ainda acreditam nele”. Mas o deputado nem precisa incomodar Ciro, correndo o risco de outro desaforo: basta consultar um dicionário.

FARSA
É desanimador o tom farsesco que eflui desse teatro de absurdos. É uma peça ensaiada, tentando aparentar que há alguma preocupação com objetivos elevados, mas o interesse de cada grupo é somente demarcar território, esperando 2018. É a degeneração da política. Está nesse jogo uma parte da explicação por que tanta gente deixa de votar; vota em branco ou nulo – ou elege candidatos que negam a política.

BOLSONARO E O DIREITO
DE DIZER ASNEIRAS
Que o discurso do deputado Jair Bolsonaro (PSC) é desprezível, é por demais óbvio, para quem não for um ignorante da mesma espécie. Que as opiniões dele são um insulto a qualquer mente civilizada, é evidente.

No entanto, agiu corretamente o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que negou a admissibilidade de uma representação do Partido Verde (PV), acusando-o de quebra de decoro parlamentar. Motivo: quando votou pelo impeachment, o deputado homenageou o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (morto em 2015), sobre o qual recaem várias acusações de tortura, no período da ditadura militar.

APOLOGIA AO CRIME
Para o PV, Bolsonaro fez “apologia ao crime de tortura”. Porém, o que estava em julgamento não era o mérito da questão, mas a inviolabilidade da fala e do voto de um parlamentar. Assegurar a Bolsonaro o direito de dizer asneiras – por mais que se discorde de sua opinião – é a garantia de que nenhum parlamentar será molestado por suas convicções.

O relator do processo no Conselho de Ética foi o deputado cearense Odorico Monteiro, que deu parecer favorável à admissibilidade da representação. O resultado foi 11 votos a 1, rejeitando o prosseguimento do processo.

TRUMP BRASILEIRO
A propósito, Bolsonaro ficou todo animadinho com a vitória do republicano Donald Trump na eleição americana. E já está se escalando por aqui.

JOAQUIM BARBOSA
Quem também está mirando a Presidência da República é Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista à Folha de S. Paulo, Barbosa disse que “não descarta” a possibilidade da candidatura. “Sou um homem livre”.

Ele aproveitou o embalo para voltar a criticar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e disse que o país “só voltará a ter paz” com a eleição de um novo presidente da República. Por que não eu?, deve estar pensando.

*Em substituição ao titular Érico Firmo.

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