Reprodução da coluna “Política”*, edição de 12/11/2016 do O POVO.

Nem tudo o que vem o Legislativo é ruim;
nem tudo o que sai da Justiça é bom

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criou uma comissão especial para acabar com os supersalários do Executivo, Legislativo e Judiciário. Segundo a Constituição, nenhum servidor pode ganhar acima do que recebe um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – R$ 33.700 mensais. Porém, o teto é desrespeitado em diversas categorias, com salários chegando R$ 100 mil ou mais.

BOLSAS
Alguns setores do funcionalismo se arreliaram, vendo a medida como retaliação, devido ao fato de Renan Calheiros estar sendo investigado na Operação Lava Jato. Pode ser, mas nessa briga quem vai sair é ganhando – se de fato os excessos forem cortados – é o distinto público, pagante desses salários exorbitantes. Se foi passado o pente-fino no Bolsa Família dos pobres, por que não fazer o mesmo com generosos salários de privilegiados, inclusive juízes, contemplados com a bolsa-aluguel?

POLÍTICOS ASSUSTADOS
Há, de fato, uma queda de braço do Congresso versus Judiciário e Ministério Público, à frente a República de Curitiba. Foi de lá que partiram as “10 medidas contra a corrupção”, que viraram espécie de mandamentos, os quais os curitibanos não admitem que neles se mexa uma vírgula.

Por outro lado, há uma ruma de assustados políticos temendo cair nas malhas da Lava Jato, por isso maquinam uma “anistia” geral ao caixa 2 e buscam outros atalhos para escapar das investigações. No estica e puxa, é preciso achar o caminho do meio: juízes e procuradores não são seres infalíveis e nem toda proposta que sai do Legislativo com o objetivo de conter-lhe a ânsia é uma trapaça para burlar a lei.

DEBATE
É preciso debater amplamente a questão. Habituou-se a culpar o Legislativo por todos os vícios do país, talvez por ser o poder mais aberto da República. Mas as outras instituições também precisam de pesos e contrapesos e do escrutínio da sociedade: o nome disso é democracia.

DONALD TRUMP
Desde que se anunciou a vitória Donald Trump iniciaram-se protestos em diversas cidades americanas contra o presidente eleito. “Não é meu presidente” é uma das consignas mais usadas pelos manifestantes. Mandam os bons modos e a democracia que o resultado das urnas seja aceito pelos perdedores (noves fora, Aécio Neves). Porém, protestos também fazem parte dos costumes democráticos.

Desconcertante mesmo é o Twitter que Trump disparou: “Acabei de passar por uma eleição muito aberta. Agora, manifestantes profissionais, incitados pela mídia, estão protestando. Muito injusto!”

FRAUDES
Foi próprio Trump que desmoralizou o processo eleitoral, gritando “fraude” durante toda a campanha. Afirmou que não aceitaria o resultado, caso perdesse, e que entraria na Justiça para contestar uma eventual vitória da adversária Hillary Clinton.

A CULPA É DA MÍDIA
Quanto aos meios de comunicação, ele sempre menosprezou a força da “mídia”, chamando-a de “desonesta” e “mentirosa”. A maioria dos jornais americanos estava contra ele, mesmo assim saiu vitorioso (apesar de ter obtido menos votos populares). Por que, de repente, de desprezível, a “mídia” vira uma força capaz de mobilizar milhares de pessoas contra ele?

ALMAS FRÁGEIS
De qualquer modo, parece existir um setor da sociedade americana – que Trump soube identificar bem – que não se importa com o que ele diz ou faz. Com suas fanfarronices, Trump aparenta um sujeito autoconfiante, bem sucedido, o que leva um pouco de conforto a almas frágeis e perdidas em um mundo tão complexo e difícil de compreender.

PERDEU/GANHOU
As eleições presidenciais nos Estados Unidos são indiretas, por meio de delegados eleitos nos estados. Assim, nem sempre o candidato com mais votos populares vence as eleições, o que aconteceu na atual disputa. Hillary Clinton obteve 60.274.974 (47,7%) votos e Donald Trump 59.937.338 (47,43%).

*Em substituição ao titular Érico Firmo.

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