Reprodução do artigo publicado no O POVO, editoria de Opinião, edição de 31/10/2019.

Atrevimento sem limites

Estão interligadas a fala apoplética do presidente Jair Bolsonaro respondendo à reportagem da Rede Globo – que revela o nome dele no inquérito que investiga a morte de Marielle Franco – e o famoso vídeo no qual ele se defende dos “inimigos”, praticamente todas as instituições brasileiras, incluindo o STF, partidos e movimentos sociais. Todos são mostradas como demoníacas hienas acossando o heroico leão, o próprio Bolsonaro.

Os dois momentos mostram o aprofundamento da radicalização do presidente, que continua apelando para a franja de extrema direita de seu eleitorado. Esse segmento irá com ele “até o fim”, como diz o vídeo, independentemente das consequências de seus atos e da natureza violenta e antidemocrática de seus discursos.

Na mesma direção atuam os filhos de Bolsonaro e o “guru” Olavo de Carvalho, com grande influência sobre a família presidencial. Recentemente Carvalho anotou em sua rede social (reprodução literal): “Ou o presidente age AGORA para fechar os partidos pertencentes ao Foro de São Paulo e fazê-los pagar pelos crimes inumeráveis cometidos por essa organização, ou eles o derrubarão em seis meses”. (O foro é um agrupamento de partidos e organizações de esquerda.)

Pouco depois, em discurso na Câmara, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) cogitou um golpe de Estado, se manifestações do tipo chileno ocorressem no Brasil. Ele ameaçou com um “a história vai se repetir”, clara referência a 1964. Eduardo é o mesmo que se dispôs a fechar a Suprema Corte com a ajuda de “um cabo e um soldado”.

Jair Bolsonaro é o maior incentivador dessa fermentação autoritária em seu entorno. Ou reproduzindo vídeos do mundo animal ou vociferando contra deus e o mundo em “lives” (transmissões ao vivo), nas quais açula seus seguidores contra instituições, partidos e imprensa.

Como diz o decano do STF, ministro Celso de Mello, “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.